Morrer na praia

Edição 75

A segunda rodada das startups pode ser mais difícil que a primeira.

Mais: IA e healthtechs, BNDES investindo em startups e o IPO da Nuvini na Nasdaq.

Mais startups morrem na praia do que atravessam o oceano

Na hora de captar o primeiro investimento, as startups enfrentam uma batalha contra a correnteza. Garantida a primeira rodada, a startup precisa comprovar que sabe gerir o capital para chegar ao próximo estágio e captar um novo aporte.

Mas a segunda rodada pode ser ainda mais desafiadora que a primeira.

Segundo pesquisa da Sling Hub e Namari Capital, 6 em cada 10 startups não conseguem avançar para uma segunda rodada e menos de 1% delas chega até uma sexta rodada de captação.

O levantamento foi realizado com 999 startups que captaram uma primeira rodada entre 2018 e 2020 – apenas 428 delas conseguiram levantar um novo investimento.

A barreira está justamente entre o seed e a Série A, considerando apenas as que fizeram rodada de investimento em troca de equity, menos de 15% (94) avançaram para uma Série A.

O fundador e CEO da Sling Hub, João Ventura, afirma que a dificuldade maior ocorre porque:

“Quando você passa de uma rodada de seed para série A há muitas mudanças, principalmente em relação à diligência. O investidor passa a ser um sócio da companhia, entra no capital social do negócio. É mais responsabilidade.”

Mais seed, mais possibilidades

A pesquisa revela ainda que uma alternativa é captar novas rodadas seed, também conhecidas como bridge, antes da Série A. Pelo menos 136 startups da pesquisa captaram uma segunda rodada seed e outras 24 fizeram pelo menos duas captações pre-seed.

Esse movimento ocorre especialmente por conta de uma maior probabilidade de sucesso ao levantar mais capital em rodadas com demanda menor de governança, investimento e negociação, como o pre-seed e seed. 

Assim, quando a startup chega ao momento de levantar a Série A, já amadureceu de forma mais considerável o negócio e aprendeu a lidar com o capital investido. Também corre menos riscos na estruturação do deal e evita investimentos em governança desnecessários para o tamanho do negócio.

Algumas das alternativas mais buscadas pela startup para atravessar esse vale da morte são as rodadas através de equity crowdfunding, com grupos de investidores-anjo e aceleradoras. Muitas vezes esses players trazem duas ou mais rodadas para o caixa da startup enquanto ela se prepara para levantar uma Série A.

IA e healthtechs, dá liga?

Desde o princípio dos desenvolvimentos de inteligência artificial, a medicina era tida como um dos campos mais promissores de aplicação.

Por isso, não é surpresa ver que o mercado global de inteligência artificial nos serviços de saúde foi estimado em US$ 15,1 bilhão em 2022 – e ainda há muito espaço para crescer: a expectativa é que alcance US$ 187,9 bilhões até 2030, crescendo a uma média de 37% ao ano (CAGR) entre 2022 e 2030.

Olha só a previsão da Precedence Research:

No Brasil, segundo relatório do Distrito, quase US$ 66 milhões foram investidos em 36 rodadas de financiamento em startups brasileiras focadas 

>> Baixar healthtech report 2023

As expectativas do setor são animadoras, especialmente porque a crescente adoção das tecnologias digitais no setor de saúde são motivadas pela necessidade de reduzir os custos do sistema de saúde e oferecer melhores cuidados aos pacientes – áreas em que a inteligência artificial pode ser uma excelente aliada.

O grande volume de dados e a crescente demanda por análise de exames requerem soluções para o armazenamento, análise e gestão de forma efetiva. Para interpretar grandes quantidades de informação e reduzir os custos de saúde, a IA deve se tornar uma das tecnologias mais demandadas por clínicas, hospitais e planos de saúde nos próximos anos.

Desenvolvimentos feitos por gigantes, como o Google, já demonstram o potencial dessas soluções no setor de saúde: 

A inteligência artificial do Google para medicina mostra respostas de diagnósticos clínicos com mais de 90% de precisão. 

A gigante das buscas também já está treinando seu modelo de IA generativa para interpretar exames de imagem (como raios-X e mamografias) e ‘conversar’ com os médicos sobre os resultados. 

Pesquisas científicas já demonstram a aplicação de IA para análise de exames oftalmológicos que oferecem diagnósticos precisos e sugerem tratamentos para diversas doenças isquêmicas de retina (IRDs).

Seja através do desenvolvimento dessas tecnologias por gigantes ou da inventividade das startups na aplicação delas como serviços, o setor de saúde deve passar por uma revolução nos próximos anos – tudo por conta do uso da IA. 

E as healthtechs não devem ficar para trás, com diversas oportunidades de redefinir a saúde pública e aumentar a eficiência e acurácia no cuidado de outros seres humanos.

R$ 638,5 milhões para startups

O BNDES não está para brincadeira quando se trata de investir em inovação: o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social selecionou seis propostas de fundos de investimento para aportar até R$ 638,5 milhões.

O Banco não investirá sozinho: a previsão é que a iniciativa mobilize até R$ 2,8 bilhões em investimentos, dos quais R$ 2,1 bilhões serão de capital privado – que se somarão aos investimentos de capital público do banco.

A BNDESPar somente se tornará cotista de fundos que apresentem capital comprometido mínimo de R$ 160 milhões (seed money) e R$ 200 milhões (venture capital). O capital do BNDESPar será limitado a 25% do montante captado por cada fundo.

Em seed money, para empresas com faturamento anual de até R$ 16 milhões, foram escolhidos os fundos:

“Brasil FIP Capital Semente, gerido pela KPTL e Cedro Capital, e o Antler Brasil I FIP Capital Semente, gerido pela Patagônia Capital e Antler Brasil, braço da gestora global Antler.”

Em venture capital:

“Astella Journey V Feeder, gerido pela Astella Investimentos; Noon FIP I, gerido pela Noon Capital, de ex-gestores da Actis; Good Karma Fund, gerido pela gestora de investimento de impacto Good Karma Ventures; e Genoma IX, gerido pela DNA Capital.”

Vale lembrar que o BNDES já possui a prática de investir no segmento, fora a chamada atual, o banco já tem R$ 6,3 bilhões de capital comprometido em 48 fundos ativos, trazendo R$ 23,5 bilhões de outros investidores. Para cada real investido pelo BNDESPar, outros R$ 3,7 são aportados por outros agentes do mercado.

Startup brasileira faz IPO na Nasdaq

A Nuvini, uma holding brasileira de empresas de SaaS – ou seja, uma empresa guarda-chuva que adquire e opera startups que atuam no modelo de Software como Serviço – fez seu IPO na Nasdaq através de um acordo de SPAC da Mercato Partners. No IPO, foi avaliada em US$ 235 milhões.

Hoje, a Nuvini já detém 7 startups que oferecem diversos serviços de software para empresas no Brasil. Com o IPO, a Nuvini embolsa US$ 57,4 milhões para continuar sua jornada de consolidação do mercado de SaaS brasileiro.

A ideia da Nuvini é adquirir mais startups com o capital, já são 17 negócios em análise para aquisição no Brasil, além de planos para expandir para outros países da América Latina, como México e Colômbia.

Os segmentos desejados pela Nuvini excluem fintechs – por conta de valuations maiores – e empresas da área da saúde, por conta do nível de regulação do setor.

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