Os unicórnios voltam pro Brasil?

Edição 90

As apostas para os unicórnios de 2024.

Mais: um novo superciclo de crescimento econômico mundial; e o novo foco do VC no Brasil.

Agtech, fintech e greentech – as apostas de 2024 para a corrida dos unicórnios

Em 2023, apenas uma empresa de tecnologia atingiu valor de mercado de US$ 1 bilhão e atingiu o status de unicórnio, a Pismo, quando foi vendida por US$ 1 bilhão para a Visa. Neste ano há seis apostas, a maioria do segmento financeiro.

Com as expectativas de um aumento nas captações em 2024, ainda que discreto, seis startups estão na lista de apostas de analistas para se tornarem unicórnios neste ano ou no próximo. 

Quatro são ligadas ao segmento financeiro – Asaas, idwall, Parfin e QI Tech. Uma da área de agronegócios, a Agrotools e a outra é a eureciclo, do segmento ambiental.

Uma nova visão

Fernando Freitas, responsável pela área de inovação do Bradesco, destaca que “o foco, a partir do último biênio, passou a ser em empresas com geração de caixa e não mais em crescimento a qualquer custo.”

Com essa visão, os principais focos das empresas de venture capital neste ano e em 2025, na avaliação de Freitas, são em negócios ligados à Inteligência Artificial (IA), silver economy (voltada a pessoas com mais de 50 anos), ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança) e ativos e pagamentos digitais. Sua aposta pessoal para candidatas a unicórnio são Agrotools, Asaas e Parfin.

O diretor do Google for Startups Latam, André Barrence, acredita que o ritmo de desenvolvimento mais saudável será retomado só a partir da segunda metade do ano.

A um passo da retomada

André avalia que, mesmo sem chegar a ser unicórnio, várias empresas têm grande potencial no Brasil. Em oito anos, 400 empresas passaram pelos programas do Google for Startups e ele destaca duas que podem estar mais próximas desse movimento, a idwall e a eureciclo.

Para o gerente de pesquisas do Distrito, Eduardo Fuentes:

“Agora, com empresas conseguindo se ajustar, somado a uma redução da taxa de juros, o mercado começa a atrair novamente mais investidores e a retomar o volume de investimento, especialmente em estágios mais avançados.”

As apostas dele para próximos unicórnios brasileiros são a QI Tech e a CERC, ambas fintechs. Fuentes ressalta que a ascensão deve ocorrer em até três anos.

Um novo superciclo de crescimento mundial

Depois do caos econômico provocado pela pandemia, que desestabilizou as cadeias de suprimento globais nos últimos 3 anos, ocasionando aumento da inflação e das taxas de juros, o mundo está entrando num novo superciclo de crescimento.

Esse crescimento está sendo impulsionado por dois fatores: o desenvolvimento da inteligência artificial (IA) e o avanço do processo de descarbonização.

Essa boa notícia foi trazida por Peter C. Oppenheimer, estrategista-chefe de ações globais e chefe de Investigação Macro na Europa do Goldman Sachs. Oppenheimer ainda destacou que embora os superciclos sejam fenômenos recorrentes na economia global, esse que está começando agora tem características semelhantes às encontradas no final do século XIX.

Um superciclo diferente

Segundo Oppenheimer, o último superciclo significativo da economia mundial começou no início da década de 1980. Um ciclo caraterizado pelo pico das taxas de juros e inflação, antecedido por um período de décadas de quedas dos custos de capital, inflação e juros – aliado ainda a outros fatores macroeconômicos como a desregulamentação e a privatização.

Foi esse superciclo que gerou efeitos como a redução dos riscos geopolíticos e a maior globalização da economia. Esse novo período vivido agora, no entanto, não deve manter essa mesma trajetória.

Segundo Oppenheimer:

“Não é provável uma tendência de descida tão agressiva das taxas de juro ao longo da próxima década, da mesma forma, estamos assistindo a um retrocesso na globalização, além do aumento das tensões geopolíticas”.

Os elementos de um novo ciclo

Na visão do especialista, embora a atual evolução econômica possa levar a uma diminuição do ritmo dos retornos financeiros, a diferença clara do ciclo anterior se dá por conta de dois fatores: inteligência artificial e descarbonização.

Oppenheimer afirma que a IA ainda está em fase inicial, mas à medida que for utilizada como base para novos produtos e serviços, deve levar a um efeito positivo na economia global.

Por exemplo, o especialista cita que é relativamente certo que veremos uma melhoria na produtividade, apoiada nas aplicações de IA, o que deve impulsionar o crescimento e aumentar as margens de lucro.

Similaridades históricas

Embora a descarbonização e a inteligência artificial sejam conceitos novos, Oppenheimer traça paralelos históricos, especialmente relacionados a fatores macroeconômicos.

Segundo ele:

“Devido a este tremendo choque duplo que provavelmente veremos, um choque positivo de inovação tecnológica a um ritmo muito rápido, juntamente com a reestruturação das economias para avançar em direção à descarbonização, penso que é um período que é realmente mais parecido com o que vimos no final do século 19”.

Esse período histórico foi marcado pela modernização e industrialização, alimentadas por desenvolvimentos tecnológicos e revoluções em infraestruturas, aliadas a um aumento significativo da produtividade.

Estes paralelos históricos podem fornecer lições para o futuro, segundo o especialista do Goldman Sachs – já que os ciclos e as rupturas estruturais causadas neles se repetem, mesmo que nunca exatamente da mesma maneira.

Oppenheimer finaliza ressaltando que:

“Precisamos aprender com a história quais são as inferências que podemos observar para nos posicionarmos melhor para o tipo de ambiente para o qual estamos nos movendo”.

No venture capital brasileiro, o foco é no verde 

As gestoras de venture capital brasileiras não irão nadar contra a correnteza. A próxima grande onda de investimentos tem tudo a ver com startups que desenvolvem soluções para enfrentar o aquecimento global.

Positive Ventures, Kamaroopin, GK Partners e KPTL já largaram na corrida para investir nas climatechs, as startups que desenvolvem soluções climáticas – esse mercado pode superar US$ 8 trilhões.

As climatechs receberam quase US$ 64 bilhões em 2023, segundo estudo da PwC – um crescimento de 70%, em meio a seca do venture capital. As gestoras brasileiras começam, agora, a desenvolver teses para investir em climatechs para sair na frente nessa tendência na região.

Segundo Fábio Kenstenbaum, cofundador da Positive Ventures:

“Essa é, sem dúvidas, a maior oportunidade de investimentos da década. Estamos falando de trilhões de dólares.”

O investimento global em projetos relacionados ao clima foi, em média, de quase US$ 1,3 trilhão por ano em 2021 e 2022, de acordo com a Climate Policy Initiative (CPI).

Ainda assim, a própria CPI estima que são necessários pelo menos US$ 8,6 trilhões investidos ao ano até 2030 para atingir a meta de limitar o aquecimento global a 1,5 ºC.

Ou seja, mesmo o volume trilionário já investido no mercado por governos e entidades privadas ainda é pouco – e isso significa que uma grande quantidade de recursos será alocado no segmento nos próximos anos.

É de olho nessa oportunidade gigantesca que as gestoras brasileiras lutam para encontrar startups voltadas para soluções climáticas. Mas não tem sido fácil: muitas das gestoras investem em estágio de growth, um segmento que ainda tem poucas representantes do segmento do clima. Quando aparecem, são empresas disputadas com valuations extremamente altos.

Outra gestora que tem enfrentado obstáculos para encontrar soluções do segmento é a Kamaroopin, gestora que teve a operação adquirida pelo Pátria Investimentos. A busca por oportunidades com maior cautela pela gestora significa um diminuto número de oportunidades que avançam na análise.

Beatriz Lutz, sócia da Kamaroopin, esclarece:

“O setor está na moda agora. Claramente, é uma tendência. Mas ainda tem muita tecnologia emergente e precisa ter cuidado para não correr riscos. Achar empresas que já estejam consolidadas e possam mitigar riscos tecnológicos e regulatórios é complexo. Quando achamos, está caro.”

Mesmo com a dificuldade, a gestora planeja fazer até dois aportes dentro dessa tese ainda em 2024. Estão no radar negócios de geração de energia distribuída e do setor de florestas.

O segmento das soluções direcionadas para florestas também está no alvo da KPTL para investimentos, já que a gestora opera um veículo de floresta e clima. O fundo ainda está captando recursos para investir, a meta é alcançar R$ 200 milhões até o final do ano – entre os investidores do fundo estão Vale, BNDES, Jacto e Zeg.

A KPTL já realizou um investimento neste fundo, foram R$ 3 milhões para a Ages Bioactive, uma startup de biotecnologia que produz compostos bioativos voltados para a longevidade. Ainda assim o head do fundo de Floresta e Clima da gestora, Danilo Zelinski ressalta:

“Precisamos olhar para a base da pirâmide para que no futuro existam mais rodadas seed e série A”.

Compartilhar conteúdo

Informativa, inteligente, exponencial.

Selecionamos as principais notícias do mercado. Trazemos editoriais, análises, entrevistas e materiais educativos. Fazemos você embarcar nesse ecossistema que pode te trazer retornos inimagináveis.

O nosso e-mail chega na sua caixa de entrada toda sexta-feira, às 12h48.

Compartilhe:

Veja também

Anterior
Próximo