O frio chegou e parece ter congelado alguns players… Mas, enquanto alguns colocam o pé no freio, outros continuam investindo no mesmo ritmo e fazem movimentações importantes.
E mais: nas foodtechs, a guerra das saladas.
#venturecapital
Momento de desacelerar? Softbank diz que não
Inflação, aumento das taxas de juros e instabilidade política vem abalando até o maior dos gigantes: o Softbank reportou um prejuízo recorde de US$ 26,2 bilhões em seu braço de investimento Vision Fund. Essa queda colocou a estratégia do CEO Masayoshi Son de concentrar fortemente os ativos em ações mais arriscadas e de alto crescimento sob análise… 👀
“Com o mundo em desordem, o Softbank deve jogar na defesa”, disse Son após a divulgação dos resultados. O que ele quis dizer é que a multinacional reforçará a posição de caixa do grupo por meio da monetização de ativos e, claro, apertará os critérios de investimento.
Mas… a América Latina não deve ficar tão preocupada com o recado de Son (pelo menos não por enquanto). A região tem se mostrado um “oásis” em termos de valorização dos investimentos e, como a maior parte do volume prometido (US$ 6,9 bilhões de US$ 8 bilhões), já foi investido na região, não terá desaceleração para o restante.
“Nosso compromisso contínua inabalável e é de longo prazo”, disse Eduardo Vieira, sócio-líder de marketing e comunicação do Softbank para a América Latina. “Os desafios aqui são estruturais, profundos, precisam de startups e empreendedores geniais e agora é que temos um volume de capital justo para a região”.
E a B3 também…
Mostrando que o momento atual também é de oportunidade, a B3 anunciou a estruturação de um fundo de investimento de R$ 600 milhões para investir em startups. A L4 Ventures focará em empresas que complementam ou tragam inovação ao negócio central da B3 em setores “vizinhos”, como energia, carbono, tokenização de ativos, finanças descentralizadas e soluções para neobanks.
O fundo deverá realizar investimentos com duração de 5 anos e sem tíquete mínimo definido por aporte ou quantidade de startups que receberão investimento. Mas há valor máximo: a L4 não aportará mais de 20% do fundo em um mesmo negócio.
Mas por que?
A chegada de novos negócios, novos IPOs e mais startups na bolsa dependem, também, de investimentos. Claro que a B3 quer lucrar com o fundo, mas o movimento também garante proximidade com as empresas do ecossistema de inovação, que cada vez mais tem optado por abrir capital em bolsas de valores internacionais, como o Nubank.
E sinais de aproximação da B3 com negócios da Nova Economia não faltam: para facilitar a adesão ao Open Insurance, por exemplo, a B3 lançou uma plataforma para servir como infraestrutura do mercado e gerenciar o tráfego de dados entre as empresas, desenvolvida em parceria com a Finansystech, startup pioneira do Open Finance.
Todas essas movimentações evidenciam a intenção da B3 de se “auto disruptar” e de não cair no conformismo de acreditar que seus processos conhecidos e comprovados permanecerão os mesmos para sempre. O setor financeiro fica cada vez mais disputado, e a B3 entende que é preciso estar preparada para mudar. E se for necessário migrar todo o negócio para o que é novo, assim será feito.
#foodtechs
A “briga das saladas” no delivery
Parece que há um mercado quente por aí (não quente literalmente): o das saladas.
A Olga Ri, startup de venda de saladas por delivery, levantou R$ 30 milhões com a Kaszek. É a terceira vez que o fundo injeta capital na empresa desde o primeiro investimento em 2019.
A startup já conta com cinco dark kitchens voltadas para o delivery e, com elas, faturou R$ 21 milhões em 2021, 3,2x mais que a receita de 2019. A nova rodada vai financiar a expansão da marca, que espera abrir mais 12 unidades nos próximos 24 meses, entre dark kitchens e restaurantes “tradicionais”, e triplicar a receita.
No outro lado da tábua está a Greentable, startup de venda de saladas e congelados, que, em abril, levantou rodada para criar a “sweetgreen brasileira”. O valor não foi divulgado, mas, com ele, a Greentable pretende focar no digital, acelerando verticais como marketing e tecnologia. Uma estratégia diferente da “irmã” americana, avaliada em mais de US$ 5 bilhões em seu IPO, que cresceu com as lojas físicas.
Fundada há dois anos, a Greentable possui duas lojas físicas em São Paulo e 3 dark kitchens para o delivery.
No outro lado dessa “briga das saladas”, a Da Mata procura um ingrediente que falta no prato: um cheque de R$ 5 milhões.
O tempero dessas saladas não é segredo: o aumento da procura por delivery, alimentação saudável e produtos orgânicos.
Até teve quem apostasse que, com o fim das restrições da pandemia, o delivery de alimentos entraria em declínio, mas a realidade é outra. De acordo com pesquisa realizada em 2022 pela National Restaurant Association, cerca de 68% dos entrevistados declararam estarem mais propensos a pedir delivery.
Os restaurantes, assim, também não devem deixar de lado a modalidade, já que ela equivale a 30% do faturamento total do negócios, segundo levantamento do Instituto Foodservice Brasil. E as dark kitchens, cozinhas que funcionam apenas para abastecer restaurantes digitais, representam uma oportunidade de ter um negócio alimentício com investimentos mais baixos, mas com alto potencial de crescimento.
#founders
30% dos empreendedores são de “segunda viagem”
O ecossistema de inovação no país ainda é tido como novo, mas, de acordo com estudos do mercado, 30% dos fundadores de startups já empreenderam anterioramente. Além disso, 66,8% já estavam inseridos no ecossistema de alguma forma. Quanto à idade, o levantamento revelou que 80% dos empreendedores brasileiros têm entre 25 e 44 anos.
Para os criadores do estudo, os empreendedores de “segunda viagem” são ótimo sinal para o ecossistema, pois representam um ciclo virtuoso que impulsiona novos negócios.
E a experiência é peça-chave
Alguns burburinhos no mercado de inovação dizem que uma startup de sucesso é nada mais do que uma grande ideia executada (ou vendida) bem… Mas isso passa longe de ser verdade. Afinal, muitas empresas baseadas em ideias muito boas não deram certo pela falta de uma peça-chave: conhecimento e experiência.
Uma ideia que não é sustentada por conhecimento de mercado pode sair como muito complicada ou muito frágil e ineficaz. Por exemplo, healthtechs que voltam todos seus esforços à tecnologia, mas deixam de olhar para as reais necessidades dos clientes, ou empresas de varejo que supervalorizam o que os clientes estão dispostos a pagar.
Assim, apenas ter uma ideia não é suficiente. Ela deve vir acompanhada de experiência de mercado.
E, ainda assim, a ideia possa ser excelente e inovadora, mas o mercado pode não estar pronto para ela. Muitos negócios não conseguiram captar recursos ou conquistar clientes há 5 ou 10 anos, mas, depois de muitas tentativas, viraram empresas de sucesso. Em parte isso acontece porque elas nasceram orientadas para mercados “futuros”, com soluções para problemas que podiam não fazer muito sentido no momento para os clientes anteriormente.
Um exemplo disso é a Loft, startup brasileira de compra de imóveis que virou referência mundial e ganhou status de duplo unicórnio em 2021.
Se fosse lançada há 10 anos, talvez a Loft não tivesse atingido o patamar que atingiu em apenas 16 meses. Claro que já havia problemas para serem solucionados no mercado imobiliário em 2012, mas naquele ano, as pessoas não ficariam confortáveis, nem teriam celular com conexão tão boa para as tour virtuais que o aplicativo oferece, para tomar uma decisão tão grande quanto comprar um apartamento.
Portanto, conhecer melhor o mercado dá ao empreendedor uma noção maior dos motivadores e das barreiras à adoção do produto, além de o colocar em sintonia com quando e como as marés mudam, fazendo com que ele possa projetar soluções flexíveis e estar preparado para modificar o produto de acordo com as mudanças de necessidades.