Nem toda fintech opera diretamente com os consumidores. Conheça três casos de fintechs desse segmento que receberam investimentos consideráveis.
É comum quando se pensa sobre o mercado de fintechs achar que todas as startups do setor são nomes conhecidos, divulgados extensivamente na mídia. Com representantes como Nubank e PicPay, com altos investimentos em publicidade e frequentemente citados por seus clientes, é compreensível.
Isso não quer dizer, no entanto, que não haja ótimos players do setor operando por trás das cortinas. Seja por representar um setor não divulgado para consumidores como o back office, por ter como clientes apenas outras startups/empresas ou por oferecer serviços aos lojistas, algumas fintechs acabam voando por baixo do radar de quem acompanha o mercado sem muita atenção.
Três delas chamam atenção pelas rodadas de investimento significativas recebidas nos últimos meses:
MONKEY EXCHANGE
A Monkey Exchange é um marketplace de recebíveis, que bateu todas as metas de crescimento, volume e receita em 2020, tendo transacionado R$ 8 bilhões. Em 2021 planeja movimentar entre R$ 20 e R$ 25 bilhões.
A fintech levantou US$ 6 milhões em rodada de investimentos liderada pela Kinea, gestora do Itaú Unibanco, e pelo fundo americano Quona Capital (investidor de Creditas, Neon, BizCapital e Contabilizei).
FITBANK
O FitBank é uma fintech que oferece infraestrutura de meios de pagamento e atua no setor conhecido como Banking as a Service. A plataforma da fintech movimenta mensalmente R$ 2,3 bilhões, através de 130 clientes B2B.
Após ter atraído a atenção do J.P. Morgan, em julho do ano passado, que aportou valor não divulgado, o FitBank conquistou um aporte de R$ 10 milhões da CSU, que atua nas áreas de cartões, meios de pagamento e outras soluções para fidelização de clientes. Além dos R$10 milhões da CSU, a rodada será completada – com investimento de R$ 20 milhões – pela FitBank Holdings, que reúne os sócios pessoa física que já investem desde a fundação do FitBank em 2015.
VÓRTX
A Vórtx atua no segmento de digitalização do back office do mercado financeiro – faz a administração e custódia de fundos da XP, Credit Suisse e Pátria, por exemplo. É a Vórtx que verifica se o gestor de um fundo está cumprindo o que foi estabelecido em estatuto e executa ordens de compra e venda. O diferencial da startup, no entanto, está em digitalizar processos que eram feitos de forma analógica.
No dia 23 de março a Vórtx anunciou que havia recebido investimento de R$ 190 milhões do FTV Capital, fundo de private equity americano – com a intenção de adquirir outros players e acelerar esse processo de digitalização do back office. Não demorou muito para a startup efetivar essas intenções: no dia 29/03 anunciou que adquiriu a Simplific Pavarini, agente fiduciário com cerca de R$ 200 bilhões em debêntures sob sua custódia. Com a aquisição, o market share da Vórtx agora supera os 50% no mercado de agentes fiduciários.
Para entender um pouco mais sobre as motivações que levam um investidor a apostar nas fintechs que movimentam o mercado sem muita atenção do consumidor, conversamos com Pedro Englert, investidor das três startups. Confira:
- Além do seu gosto por fintechs, o que te atraiu em cada uma das 3 empresas (Monkey, FitBank e Vórtx)?
Pedro Englert: O que atraiu foi o desejo de ter uma participação em fintechs de: crédito, digitalização do mundo financeiro e back office do mercado financeiro. Começamos a mapear empresas que tinham teses bem construídas em cima disso. Sempre buscamos pessoas que entendiam profundamente sobre esses mercados e tinham grande experiência neles, que estavam dispostas a construir um produto do zero, com muita experiência, mas com visão mais moderna sobre como desenvolvê-lo. Basicamente, o que vi nas três foi um time com muito conhecimento sobre aquele mercado que desejavam transformar, além de ter uma grande capacidade de criar produtos com fit de mercado – podendo ser tracionados.
- Acredita que as movimentações de aquisições, como a compra da Pavarini pela Vórtx, tem impacto positivo no segmento de fintechs?
Pedro Englert: A compra da Pavarini pela Vórtx, mostra o nível de maturidade das fintechs. Pois já nasceram, cresceram, estão com tamanho relevante e agora começam a consolidar o mercado. Antes víamos muitas empresas tradicionais comprando startups, agora estamos vendo empresas que nasceram como startups – mas que já estão tracionando e possuem receita, bem capitalizadas – fazendo a consolidação, adquirindo outras startups. Acredito que isso seja muito saudável, mostrando que o mercado está mais maduro e deve ficar cada vez mais competitivo.
- Na sua opinião, qual o futuro do dinheiro?
O futuro do dinheiro pra mim é ele sumir. Não quer dizer que ele irá acabar, continuará existindo, mas ficará cada vez mais transparente. Cada vez ficará menos visível nas transações do dia a dia, nos pagamentos, não sei quando isso vai acontecer, mas imagino que claramente irá acontecer. Hoje, quando você visita uma loja como a Amazon Go, onde você já sai da loja sem pagar, quando você sai de um Uber sem pagar (sem ter o ato do pagamento), quando você sai de um estacionamento sem ir até o caixa, quando pede a comida por aplicativo e não possui mais o momento de tirar o dinheiro da carteira, inserir o cartão de crédito, digitar senha… isso muda bastante a usabilidade, mas também a percepção de valor. As pessoas hoje nem sabem o quanto pagaram pelas coisas, não sabem quanto foi o pedágio, o Uber, o estacionamento, porque esse ato está desaparecendo.