A história de como o Buscapé se tornou uma das primeiras – e mais rentáveis – startups do Brasil é cheia de contradições. Para começar, os fundadores decidiram colocar o negócio de pé em 1999 – esqueça supervalorização do ecossistema de inovação brasileira, valuations extremos e inovação em todos os lugares.
Inovar era para poucos, uma minoria ousava criar uma empresa de tecnologia e um número menor ainda existe e tem relevância em 2023. Mas essa não foi a realidade do Buscapé. A ideia de criar um buscador de preços em diversos sites, comparando e direcionando o cliente para as lojas foi matadora.
Metade do negócio começou aí: solucionar um problema que talvez os usuários nem tivessem se dado conta ainda. E, o mais importante, antes que qualquer concorrente tivesse vislumbrado o tamanho da oportunidade.
Por exemplo, hoje, no Google Shopping, é possível fazer comparações de preço, mas a população brasileira já criou o hábito de comparar no Buscapé. Já está habituada a comparar a reputação das lojas de acordo com as avaliações do site. E, claro, hoje o Buscapé é muito mais que um simples comparador de preços – até cashback a empresa já implementou.
Do interior de SP para a América Latina
A história do Buscapé começou em 1999, em Santana da Parnaíba, São Paulo. Com um investimento inicial de R$ 4800, Rodrigo Borges, Romero Rodrigues, Ronaldo Takahashi e Mario Letelier, todos jovens, na faixa dos 20 anos, após enfrentar dificuldades para encontrar detalhes técnicos de uma impressora em lojas online, decidiram montar um site para juntar informações de diferentes produtos, de diversos e-commerces.
Rodrigo Borges, um dos fundadores, conta que “o problema que a gente resolvia era ajudar o consumidor a encontrar um produto. Mas, no fundo, o trabalho todo do Buscapé foi trazer a decisão de compra, que antes era dentro de um varejista, para um site”.
Pouco tempo depois, em 12 meses de operação, recebeu o primeiro investimento. Logo após, conquistou US$ 3 milhões do Merrill Lynch e do Unibanco. Segundo os fundadores, era uma outra época: não houve uma festa de arromba e nem uma campanha de marketing milionária após o recebimento do aporte.
A aquisição milionária do Buscapé
Decisão acertada: nessa época, o mercado vivia o estouro da bolha da internet – os investidores logo passariam um período receoso e evitando empresas de tecnologia. A estratégia, com o capital, foi adquirir e investir em outros negócios – incluindo a aquisição de concorrentes como o Bondfaro. De startup para companhia, a Buscapé Company atraiu a Naspers, um conglomerado de mídia sul-africano que comprou o controle total (91%) da empresa por US$ 342 milhões. Os outros 9% continuaram na mão de alguns dos fundadores.
De fundador a executivo
A venda do negócio também representou a saída dos fundadores do comando da empresa entre 2009 e 2015. Todos eles realizaram um movimento comum aos fundadores que realizam um exit de sucesso: passaram, cada um da sua forma, a ajudar outras startups, aconselhando e criando fundos de investimento.
Mario Letelier optou por fazer investimentos-anjo em startups de estágio inicial. Ronaldo Takahashi cofundou uma aceleradora, a Move2. Rodrigo se juntou a outros sócios e fundou a Domo Invest, hoje uma renomada gestora de Venture Capital. Romero Rodrigues se tornou sócio da Redpoint e.ventures, outra gestora especializada em investir em startups de tecnologia – hoje, está a frente da Headline, gestora que tem parceria com a XP Investimentos.
Segundo Rodrigo, houve um movimento natural com a venda: os fundadores foram progressivamente se tornando menos donos do Buscapé e mais executivos.
O foco do Buscapé mantido, mas expandido
Mesmo com a saída dos fundadores, há uma preocupação constante da gestão em manter o DNA da startup. Através da realização de eventos com os fundadores – que servem tanto como uma atualização para eles sobre o que o Buscapé se tornou, quanto para os funcionários entenderem os desejos dos fundadores quando começaram a companhia.
Mesmo hoje sendo considerada uma “ex-startup” e contando com mais de 300 funcionários e faturamento acima de R$ 300 milhões anuais, o Buscapé procura manter atitudes características de startups – como a tomada rápida de decisão, implementação e correção de rumo.
As lições do Buscapé
Como uma das primeiras startups de sucesso do Brasil, os empreendedores por trás do Buscapé têm muito a ensinar para quem deseja se aventurar no ecossistema brasileiro. Para Rodrigo Borges, um dos fundadores, criar processos deve ser uma meta desde o começo para gestores de startups.
O fundador conta que aprendeu o valor dos processos errando – o Buscapé sempre priorizou o crescimento rápido a gestão dos processos internos. Depois, viu que se tornou um problema muito maior para resolver. Segundo ele, “é mais fácil implantar os processos desde o início e ir adaptando com o crescimento do que não tê-los e ser obrigado a fazer isso depois”.
Essa, infelizmente, não é a realidade da maioria das startups. Geralmente, essa preocupação só se torna prioritária quando a empresa já está grande demais e, consequentemente, a implantação dos processos se torna lenta: há mais pessoas para lidar, com vícios consolidados, seja de outras empresas ou da própria startup.
Sucesso rápido?
Rodrigo também critica empreendedores que buscam sucesso fácil. Segundo o empreendedor, os fundadores iniciantes costumam se deixar levar pelas histórias de sucesso espalhadas na internet, as dificuldades e o que deu errado acaba não ganhando o mesmo espaço.
Não dá para criar uma startup buscando dinheiro rápido, também. Não é incomum que pessoas que decidem empreender com uma startup o façam por ver notícias de vendas milionárias de startups. Pessoas que pensam que esses fundadores montaram uma startup, venderam e ganharam muito dinheiro.
Isso ocorre, claro, mas não é algo imediato. Muito menos inevitável. Muitas startups demoram anos para dar retorno significativo ao fundador, outras, morrem pelo caminho. É um negócio de longo prazo e com risco considerável. Há ainda os fundadores que, de olho no dinheiro, desistem do negócio, vendem sua participação (early exit) e deixam de participar – e ganhar mais – com um evento de liquidez (uma venda ou IPO) que acontece algum tempo depois.
Hoje parece fácil pensar em uma solução como o Buscapé. Mas, na época, os empreendedores também tiveram seus percalços. Primeiro, as varejistas resistiam em fornecer informações sobre os produtos, não queriam entregar valores e detalhes para a plataforma. Era uma ameaça: os lojistas teriam de competir mais fortemente entre si, em uma época em que valores não eram repassados nem por telefone.
A solução foi desenvolver um sistema interno no Buscapé que fizesse a coleta desses dados automaticamente. Ainda assim, não foi fácil: receberam ligações ameaçadoras e quase tomaram um processo de uma grande varejista que queria que suas ofertas fossem removidas dos resultados de busca do Buscapé.
Por que importa?
O Buscapé é considerado como a primeira startup brasileira de sucesso e hoje fatura centenas de milhões de reais ao ano. Nenhum dos fundadores está mais no comando, embora a companhia tente manter o propósito inicial do negócio vivo: dar poder de escolha ao consumidor e nunca parar de inovar para proporcionar isso.
A receita para isso é uma que muitos empreendedores de startup se esqueceram nos últimos anos: ser rentável. Com diversas aquisições durante seu período de crescimento, o Buscapé chegou a ter 1500 funcionários, em 2007, no entanto, já atendia seus 30 milhões de usuários com pouco mais de 300 funcionários.
A receita anual já era de R$ 300 milhões em 2015, e a companhia ficou gradativamente mais rentável com o tempo. Um resultado do foco em rentabilidade, para manter o negócio sustentável a longo prazo.
Com a venda para o Naspers, em 2009, por mais de R$ 1 bilhão, o Buscapé deu retorno invejável aos seus fundadores – embora não tenham revelado quanto – e investidores. Itaú Unibanco e Merill Lynch tiveram retorno de 4,3x; Great Hill Partners de 11x; e-Platform Venture Partners, 50x.
Em novembro de 2012, a Buscapé Company incorporou todas as plataformas de comparação de preço do grupo Naspers e se tornou líder global na categoria. Romero Rodrigues asumiu, em 2022, o comando do escritório brasileiro da gestora de venture capital Headline, com a XP como parceira.
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