Como a WeWork, avaliada em bilhões, quase fechou?

Tudo começou em 2008, quando Adam Neumann, junto com o amigo Miguel McKelvey, subalugou parte do prédio de uma empresa que mantinham para ter menos despesas com locação. Nisso, nascia o “protótipo” do que se tornaria, em 2010, a WeWork.

A WeWork não teve muitos problemas para deslanchar. Depois da crise de 2008, muitas pessoas buscavam espaços físicos para ingressar novamente no mercado de trabalho em carreiras autônomas ou em pequenos negócios. Outros aspectos que aceleraram o crescimento da WeWork foram o espírito empreendedor que leva muitos jovens a procurar esse tipo de espaços e as boas localizações dos imóveis.

Neumann e o sócio, desde o primeiro endereço, no SoHo em Nova Iorque, continuaram apostando em espaços em grandes centros urbanos. Em 2014, a WeWork era a empresa de locação de escritórios que mais crescia na cidade, ao mesmo tempo que levava suas locações para outros países (incluindo o Brasil!).

Mas esse crescimento, claro, veio acompanhado de investimentos. Nesse período, a WeWork já tinha abocanhado mais de US$12 bilhões em aportes. Isso levou a startup, em 2016, a ser avaliada em US$10 bilhões e, um ano depois, em US$20 bilhões – que foi muito fomentado depois dos investimentos de, ninguém mais, ninguém menos que Masayoshi Son, CEO do Softbank.

A personalidade de Neumann

Há vários perfis de empreendedores: há os inquietos, os “vendedores”, os meticulosos e por aí vai. Para muitos, Neumann é o perfil “rockstar”. Os discursos de quem sonhava mudar o mundo atraía não apenas mão de obra relativamente barata, mas uma base de clientes fiel, que enchia os escritórios. Fora isso, quem já trabalhou com Neumann disse que o chefe sempre foi excelente em persuadir parceiros, investidores e agentes financeiros – não aceitava “não” como resposta.

Tudo isso fez com que, em 2019, a WeWork virasse a We Company, que incluía outros empreendimentos, como a WeGrow, escola de nível fundamental para trabalhar a autonomia das crianças, e o WeLive, empreendimento que investia em apartamentos com áreas de convivência comuns para alugar.

O próximo passo de Neumann, então, era levar a WeWork para a Bolsa, ainda que a empresa, naquele momento, não apresentasse lucro.

Mas quem entende de startups, não se assusta com esse movimento: em busca de crescimento acelerado, é comum que elas queimem mais dinheiro do que recebem, em uma prática conhecida como cash burn

A derrocada da WeWork

Com o pedido de abertura do capital, a “saúde” da WeWork passou a ser analisada de perto. E não demorou para o mercado perceber que a estratégia de Neumann estava longe de ser “cash burn”. Em 2018, por exemplo, o prejuízo da WeWork foi de US$1,9 bilhão contra o US$1,8 bilhão de receita.

Os gastos vinham de vários lugares: dos aluguéis altos das localizações da WeWork – que eram acompanhados por contratos muito longos (em média 15 anos) para uma startup assumir – e das festas promovidas por Neumann no próprio ambiente de trabalho, inclusive durante reuniões, que duravam por dias e eram regadas a álcool e drogas.

Mas as festinhas eram, de longe, o único problema. Relatos apontam que funcionários da WeWork foram demitidos porque Neumann, simplesmente, não gostava da “energia” deles.

Além disso, várias investigações apontam que Neumann articulou planos para colocar dinheiro no próprio bolso. O empresário possuía prédios que alugavam espaço para a WeWork e que a companhia fez empréstimos pessoais a ele com juros abaixo de 1%. Depois, esses valores foram usados para comprar imóveis que foram alugados para a própria WeWork.

E não para por aí: Neumann registrou a marca “We” e forçou a própria empresa a comprá-la por US$5,9 milhões após a mudança de nome, de WeWork para We Company. Com a repercussão negativa, ele acabou retirando a ação judicial.

Até o plano de IPO foi uma tentativa para obter recursos financeiros próprios – o que justifica os esforços para elevar o valor da WeWork em quase US$50 bilhões.

WeWork: exemplo do que não fazer

Muitas vezes, ao investir em startups, os investidores apostam no “jóquei e não no cavalo” – um time de fundadores comprometidos e capazes, em muitos casos, vale mais do que um negócio que parece promissor. Afinal, a ideia, o modelo de negócio, o produto ou serviço podem mudar ao longo do caminho, mas a equipe que desenvolve dificilmente sofrerá tantas mudanças assim.

A WeWork é o exemplo contrário perfeito: foi criada por empreendedores que perceberam, em um cenário de crise, uma oportunidade de ouro, mas que depois jogaram contra o próprio negócio.

E o que aconteceu com Neumann? Com a pressão por parte do mercado (e do maior investidor, o Softbank), ele acabou deixando o cargo de CEO em 2019. Uma semana depois, a WeWork cancelou o pedido de abertura do capital.

Com a saída de Neumann, Artie Minson e Sebastian Gunningham assumiram as funções de CEO.

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