Que os investidores diminuíram o valor dos seus cheques em 2022 não é novidade. Nos primeiros oito meses do ano passado, as startups brasileiras receberam US$ 3,6 bilhões, volume 45% menor em relação ao mesmo período de 2021, quando captaram US$ 6,6 bilhões.
Agora, um levantamento da Bain & Company, revelou que as empresas também tiraram o pé do acelerador: o mercado de fusões e aquisições (M&A) teve uma queda de 43% do volume de negócios em 2022 em relação ao ano anterior.
Em 2021, foi movimentado o valor recorde de US$ 49 bilhões, já em 2022, US$ 28 bilhões. De acordo com o relatório, os principais motivos que levaram à essa queda foram a desaceleração macroeconômica e a redução das grandes transações – aquelas acima de US$ 5 bilhões.
Em relação ao perfil das transações, 79% foram acordos de escala e 21% acordos de escopo. Segundo a classificação da Bain, um acordo de escala é quando uma empresa compra um fornecedor, cliente ou parceiro para controlar melhor a cadeia de valor, enquanto os de escopo são aqueles que uma companhia adquire outra de modelo e operação complementar, com uma visão mais estratégica.
Aqui, um ponto interessante: os acordos de escopo tiveram um crescimento relevante, uma vez que, em 2019, eram apenas 5% do total das transações. Ainda é menos que a média global, onde representam cerca de 50% das fusões e aquisições, mas o aumento sinaliza que as empresas brasileiras estão descobrindo os outros benefícios do M&A.
Um exemplo de acordo de escopo foi a aquisição da Wuzu, fintech focada em blockchain, pela 2TM, holding do Mercado Bitcoin, em março do ano passado. Valores não foram divulgados, mas, segundo a 2TM, o principal objetivo da aquisição era utilizar a plataforma de emissão de tokens desenvolvida pela Wuzu para crescimento estratégico.
Aquecendo as turbinas para aquisições
As incertezas políticas e econômicas tenderão a manter as empresas e investidores no modo cautela nos primeiros meses do ano. Mas as empresas devem fazer movimentos mais pontuais para reforçarem suas posições em segmentos em que já atuam.
Um desses movimentos é o corporate venture capital. Exemplo disso é que, nos últimos meses de 2022, grandes organizações brasileiras como B3, Locaweb, Totvs, Renner e Valid lançaram seus veículos de CVC – que, juntos, somam quase R$ 1,5 bilhão em aportes.
Esse maior interesse das organizações de se aproximarem das startups acontece porque inovar por conta própria leva mais tempo – e mais dinheiro. Além de acelerar a cultura de inovação das corporações, as startups também as ajudam a superar desafios tecnológicos, desenvolver novos projetos e dar mais agilidade à operação.
Mesmo que tenham mais capital e recursos para investir em pesquisa e desenvolvimento, as organizações não podem ficar restritas a isso quando o assunto é inovação.
E o CVC é uma maneira das grandes empresas acessarem a inovação que acontece do lado de fora de maneira estratégica, conhecendo novos negócios, convivendo com empreendedores e encontrando produtos que podem agregar valor para seus clientes, sem necessariamente ter que fazer uma transação de M&A.
M&A sinônimo de inovação
Tanto o M&A, quanto o CVC não só garantem às empresas proximidade com o ecossistema de inovação, mas também evidenciam a intenção das companhias de não cair no conformismo de acreditar que seus processos conhecidos e comprovados permanecerão os mesmos.
O mercado fica cada vez mais disputado, e as empresas têm que estar preparadas para mudar.