Como os founders estão movendo suas startups no momento atual?

Se antes as startups já eram conhecidas por serem ágeis e flexíveis, agora, em um cenário de maiores riscos e incertezas e de novas demandas dos investidores, elas têm que se mover com ainda mais rapidez. E com o dinheiro que já possuem em caixa. 

Isso porque 40% dos founders não estão indo atrás de novos recursos. A informação é de um levantamento feito pela Associação Latino-Americana de Private Equity e Venture Capital (Lavca), que avaliou como mais de 160 empreendedores estão adaptando seus negócios ao momento atual.

Do total, 84% afirma que o processo de captação de recursos vem demorando mais que o esperado. Sem novos investimentos, os empreendedores estão reestruturando (e diminuindo) suas equipes, renegociando contratos de fornecedores e cortando despesas de marketing e vendas. 

A eficiência operacional virou um dos focos – se não o principal – dos empreendedores.

Não é só aqui

Da América Latina para a Índia, os founders vem enfrentando um momento parecido. Em um estudo feito com empreendedores indianos, 58% deles acreditam que 2023 será um ano desafiador, com um cenário de captação de recursos ainda mais difícil.

Ainda assim, a maioria deles têm confiança de que vão conseguir levantar rodadas de captação com valuations mais altos, à medida que colocam suas startups no caminho da lucratividade.

Pela primeira vez desde que o estudo foi feito, há 7 anos, os empreendedores indianos apresentaram maior viés para lucratividade do que crescimento – 55% declararam a lucratividade como uma área de foco maior, em comparação com apenas 17% em 2021.

Founders focam na lucratividade para não fechar às portas

Com a demanda dos investidores por negócios mais lucrativos e sustentáveis, muitos founders terão que fechar as portas nos próximos 12 a 18 meses. Essa afirmação veio de Julio Vasconcellos, sócio-fundador do fundo Atlântico, durante painel em evento realizado pela BTG Pactual.

Mas isso não é algo negativo. “São empresas que conseguiram captar nos últimos anos porque tinha uma abundância de capital, e agora, eventualmente vão fechar às portas, como deveriam ter fechado há um ou dois anos”, disse ele.

Com esse movimento, de acordo com Vasconcellos, o mercado de investimento em startups tende a voltar a um percentual de perda de investimentos de 50% a 60%, podendo chegar a 70% ou 80%. Em 2021, com a abundância de liquidez que deu sobrevida a muitos modelos de negócio “não tão bons”, esse percentual chegou na faixa de 30% a 40%.

Para não ter que chegar ao ponto de fechar as portas, muitas startups começaram a fazer ajustes no segundo semestre do ano passado – vide a onda de demissões. Uma pesquisa feita com mais de 120 startups detectou que aquelas que realizaram ajustes ficaram em melhor situação depois de cortar, do que estavam antes. Segundo o levantamento, a média de demissão ficou acima de 30%.

Mas, para alguns especialistas, os empreendedores demoraram para corrigir a rota – muitos deles buscaram reduzir gastos e esticar o caixa por mais tempo –, e os ajustes, só estão começando.

Segundo Vasconcellos, ainda que a lucratividade tenha virado a palavra-chave para os empreendedores, o crescimento continua a ser uma métrica fundamental para as startups e, em breve, voltará a ser o principal critério de avaliação… ainda que diferente: não será mais sobre crescimento desenfreado, a qualquer custo, mas o crescimento bem metrificado.

Na frente do crescimento

No fim, as maiores beneficiadas do movimento do mercado têm sido as startups de estágios mais iniciais, porque, como elas estão no início da construção dos seus negócios, possuem uma chance de projetá-los já pensando na demanda atual – sem gastos desnecessários ou grandes equipes e, principalmente, preocupadas com lucro… Ou pelo menos com alguma previsão de quando o momento chegará.

E isso está sendo refletido nos investimentos. No estudo da Lavca, 69% dos fundadores afirmaram que os investimentos que conseguiram levantar até o momento foram em estágio inicial, com rodadas seed e Série A representando 56% de todas as captações divulgadas.

As startups em estágio inicial também foram as que apresentaram maior crescimento de receita: dois terços das startups entrevistadas tiveram um salto de mais de 10% mensal, com 40% crescendo de 20% a 29,9%, e 33% crescendo de 10% a 19%. Nenhuma das empresas com valuation acima de US$ 300 milhões relatou crescimento de receita superior a 20% mensal.

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