R$ 1 bilhão para UMA startup

Edição 79

O maior aporte do ano!

Mais: R$ 14 milhões para Food To Save e os investimentos estão de volta.

O maior investimento do ano

A QI Tech atraiu a General Atlantic e captou R$ 1 bilhão (US$ 200 milhões), protagonizando a maior rodada do ano.Além da General Atlantic, que aportou o maior montante da rodada, a Across Capital, gestora brasileira, dobrou o valor investido em uma rodada anterior e completou o aporte.

A QI Tech é uma fintech que já tem como clientes Vivo e 99. Com o aporte, a startup pretende continuar sua agenda de aquisições, que foi iniciada depois de conquistar a primeira rodada em dezembro de 2021.

Desde o recebimento do primeiro aporte, a QI Tech já desembolsou um terço dos US$ 270 milhões. Com o montante, comprou a Zaig e a Builders Bank. As compras foram motivadas pelo desejo de diversificar as soluções oferecidas e ainda há apetite por negócios ligados ao open finance e inteligência artificial. 

Startup desejada

Segundo o CFO da QI Tech, Marcelo Bentivoglio, a própria General Atlantic foi quem buscou a aproximação inicial para investir na fintech. A startup topou conversar, especialmente pelo interesse no perfil de investidor de longo prazo do fundo e por ter sido um dos primeiros investidores da XP, dando suporte para o crescimento do negócio.

Tem futuro na Bolsa?

A QI Tech vislumbra o momento do IPO no futuro, mas ainda não é o momento. Segundo os executivos, estão esperando um momento mais favorável para listagem de empresas tech e, também, buscam deixar a empresa mais preparada para uma próxima janela de oportunidade – talvez em dois ou três anos. 

Parte dessa preparação é aproveitar o reforço do investimento para investir na expansão das quatro unidades de negócio atuais: lending as a service, banking as a service, conhecimento do cliente e uma corretora para trabalhar com FIDCs.

O objetivo é ser percebida pelos clientes, hoje mais de 300 empresas, como uma one-stop-shop de tecnologia para serviços financeiros. O negócio deve fechar o ano com cerca de R$ 10 bilhões em créditos gerados.

Nas sacolas surpresa da Food To Save, R$ 14 milhões

A Food To Save acaba de levantar uma rodada de R$ 14 milhões liderada por DSK Capital e com participação das gestoras Spectra e HiPartners. O objetivo é escalar a plataforma, entrando em novas cidades e conquistando novos usuários onde já opera. 

Outros investidores-anjo também participaram, como João Galassi (presidente da Associação Brasileira de Supermercados); Paulo Camargo (ex-presidente do McDonald’s no Brasil e atual CEO da EspaçoLaser); e João Branco (ex-vp de marketing do McDonald’s Brasil).

Food To Save é um marketplace que conecta consumidores com estabelecimentos que têm produtos próximos ao vencimento ou que não foram consumidos no dia através de um app.

O consumidor compra uma ‘sacola surpresa’ de estabelecimentos como padarias e grandes redes, como Natural da Terra e hotéis Ibis. Os descontos chegam a 70%.

A startup já conta com mais de 4 mil estabelecimentos e 2 milhões de consumidores cadastrados, movimentando próximo de R$ 50 milhões nesse ano. A startup fica com cerca de 10% dessas vendas para tocar o negócio.

Essa é a segunda rodada conquistada pela startup, que realizou em abril de 2022 sua primeira rodada, de R$ 1,3 milhão,através da Captable. Na ocasião, em menos de 24h, 211 investidores investiram no negócio.

O propósito da Food To Save

Além de ajudar a reduzir a perda de receita com produção excedente dos supermercados, padarias e marcas, a Food To Save resolve um problema extremo: o desperdício de alimentos.

Um terço de todo o alimento produzido no mundo vai para o lixo. Só no Brasil, 40 mil toneladas de alimento vão parar no lixo todos os dias. O potencial de mercado no mundo é de US$ 700 bi, no Brasil, são US$ 40 bilhões. 

Como a Food To Save atua no final da cadeia, evitando o desperdício quando o alimento já chega ao varejista, o mercado disponível é menor, mas ainda representa cerca de US$ 5 bilhões.

Além do desafio de eficiência das cadeias de produção e distribuição, o maior desafio ainda é cultural. Segundo o cofundador da Food To Save, Lucas Infante, a ideia no brasil é de que é “melhor sobrar do que faltar”, isso faz parte da cultura. E completa:

 “Tem essa barreira forte, que é mostrar para o consumidor o benefício de evitar o desperdício”.

Próximos passos no combate ao desperdício

Com uma nova injeção de capital, a Food To Save agora busca ampliar seu time para apoiar o crescimento da plataforma nos próximos anos. Lucas ressalta que o modelo é bastante escalável e replicável e, por isso, a ideia é consolidar as 20 cidades já atendidas, incluindo SP, RJ e BH, e partir para novos mercados.

A ideia da Food To Save foi empregada por outros negócios que tentaram atuar de forma similar, mas, a maioria delas, morreu na praia. EcoFood, Bom App e FoodHero não deram tanta sorte. 

Segundo o cofundador, um misto de problemas atingiu esses negócios, incluindo falhas de execução e falta de acesso a capital para escalar a plataforma.

A rodada de R$ 1,3 milhão via Captable no início da expansão do produto deu fôlego para crescer e atrair os fundos da rodada atual – com um faturamento mais robusto, produto mais finalizado e mais cidades operando.

Outro fator relevante foi a conquista de grandes marcas e estabelecimentos, que geram interesse e confiança dos consumidores. O modelo é resiliente, já comprovou a capacidade de escala e conquistou uma comunidade de fãs. Agora, a missão é levar essa realidade para outros lugares do país. Afinal,  não faltam lugares que precisam acabar com o desperdício de alimento.

Investimento público, venture capital e CVC estão de volta

A correção no mercado de capital de risco, estimulada pela alta de juros, geopolítica e condições macroeconômicas, foi demonstrada no estudo Master Guide, realizado pela Ace Ventures, Softbank e Emerging VC Fellows, contou com dados de 25 fundos brasileiros.

Dos fundos entrevistados, 66% alegou ter mantido em 2023 o mesmo valor dos aportes de 2022, 86,9% apontou que realizou cortes no valor de mercado (valuation) das startups e 21%, realizaram um down round.

Oxigênio para a volta do mercado

Em meio ao ar rarefeito do venture capital no país, um sopro de oxigênio vem preenchendo os pulmões dos founders: os investimentos públicos e corporativos vem crescendo (em representatividade e em volume investido).

Há, por exemplo, o Plano Mais Inovação, com previsão de R$ 60 bilhões investidos em quatro anos. Desses, R$ 16 bilhões são não reembolsáveis – o restante, com longos prazos e baixas taxas de juros para fomentar a inovação. Os recursos virão da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) e do BNDES.

Do lado corporativo, o interesse das empresas em buscar inovação estimulou a criação de dezenas de fundos de Corporate Venture Capital. De janeiro a agosto de 2023 foram investidos R$ 1,5 bilhão através desses veículos, em um total de 57 operações.

Com o volume de capital investido crescendo do lado dos CVCs e encolhendo nos VCs, a participação dos fundos de Corporate Venture atingiu o recorde de 30% do valor e 36% das operações realizadas em 2023. Em 2019, para se ter uma ideia, os investimentos representavam 10% das operações e 12% do valor.

Bancos públicos e privados não querem ficar de fora

Não são só os bancos de desenvolvimento que estão de olho no mercado e investindo pesado. Os grandes bancos também estão atentos: o Banco do Brasil, por exemplo, criou seu programa de CVC em 2021 – hoje, já conta com cinco fundos, dois deles exclusivos do BB e já tem R$ 200 milhões em capital comprometido e 48 startups investidas.

No caso do Bradesco, o banco optou pela estruturação de veículos com estratégia de inovação que inclua intraempreendedorismo, open innovation, fusões e aquisições (M&A) e CVC.

Itaú BBA escolheu criar um time interno específico para analisar oportunidades e sinergias com empresas de base tecnológica. Em 2021 chegou a 500 companhias grandes espalhadas pelo banco, como iFood, VTEX e Infracommerce, desde então, triplicou o número com negócios em estágio inicial.

A estratégia do Itaú BBA é oferecer venture debt, um instrumento que mistura a lógica de capital de risco a empréstimos tradicionais para avaliar a capacidade de pagamento com captação futura. São R$ 300 milhões destinados para venture debt, dos quais já foram utilizados R$ 90 milhões.

Não importa o recorte que se olhe, depois da fuga de capital acentuada no ano passado, os investimentos públicos, corporativos e capital de risco demonstram uma tendência de recuperação e crescimento. 

O investimento em inovação voltou ao cenário – e quem chegar primeiro no palco terá mais chances de conquistar sua rodada no início desse ciclo de bonança do venture capital.

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