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A face oculta da guerra

Edição 76

Os impactos da guerra em Israel no ecossistema de inovação do país.

Mais: 47% a mais de investimentos em setembro; investimentos no país precisam crescer 15x para alcançar EUA; e 100 startups para ficar de olho.

Startups na guerra

Os impactos da guerra em Israel vão além do drama humano, com milhares de mortos e feridos e da destruição e danos às cidades. Uma face menos visível de fora, o ecossistema de empreendedorismo do país, também sofre.

Dentre os impactos mais comuns às startups estão as perdas dos colaboradores, de familiares, amigos e convocação para o exército. São 300 mil reservistas que foram convocados à linha de frente – muitos deles, fundadores ou empregados de startups.

O ecossistema de inovação pujante de Israel é responsável por 20% do PIB do país e emprega 14% dos habitantes. 

Além das startups, grandes empresas de tecnologia possuem escritórios no país, como o Google, que emprega cerca de 2,2 mil pessoas em Tel Aviv e Haifa, e a Microsoft, com cerca de 2 mil funcionários em Tel Aviv.

Um celeiro da inovação

Israel é mais que a guerra. O país é responsável por algumas das startups mais relevantes do mundo, é de lá que surgiu o Waze, o Monday e tantos outros negócios que se tornaram extremamente relevantes. São mais de 60 unicórnios no país e pelo menos 2 decacórnios.

Algumas das maiores startups do país são a Rapyd, de serviços financeiros, avaliada em mais de US$ 10 bilhões e as companhias de segurança digital Wiz e Snyk, que valem US$ 10 bilhões e US$ 8,5 bilhões, e a Fireblocks, do setor de cripto, com valuation superior a US$ 8 bilhões.

Diferente de outros ecossistemas de empreendedorismo global, como o Vale do Silício, a inovação de Israel está acostumada a lidar com escassez e incertezas – esse é um dos motivos pelos quais diversas pessoas são atraídas em conhecer como funcionam os negócios nessa região.

Em setembro, 47% a mais de investimentos

Mais um mês para comemorar. Depois de levantarem mais de US$ 1 bilhão em agosto, as startups brasileiras captaram US$ 413 milhões em setembro, de acordo com a Sling Hub. Esse foi o segundo melhor resultado do ano, ficando atrás apenas do mês anterior.

Vale destacar: o valor também é 47% maior que os aportes registrados no mesmo mês de 2022. 

Apesar da queda nos investimentos em comparação com o mês anterior, é preciso levar um detalhe em consideração: o montante foi puxado para baixo pela diminuição de rodadas de dívida e receivable funds – essas, em agosto, foram responsáveis por somar R$ 755 milhões, em setembro, apenas US$ 40 milhões.

Por outro lado, as rodadas de equity (com venda de participação acionária) somaram US$ 389 milhões em setembro – o melhor resultado desde maio de 2022, quando foram captados US$ 523 milhões na modalidade.

CondoConta deu show

O destaque do mês foi a rodada da CondoConta, que levantou R$ 30 milhões com a EXT Capital, um spin-off da DOMO Invest que aporta em rodadas de Série A e B.

A fintech para condomínios recebeu aporte dividido de equity e crédito, os termos não foram divulgados. O investimento será destinado para acelerar a vertical de concessão de financiamentos para condomínios. Cerca de 3 mil condomínios são clientes da CondoConta, totalizando 400 mil usuários.

A fintech já intermediou mais de R$ 500 milhões em transações desde o início das operações em 2020 – o objetivo é chegar a R$ 1 bilhão até o final de 2024 e atingir o break-even.

Rodrigo Della Rocca, fundador da CondoConta, foi um dos convidados do Podcap, clique aqui e confira o episódio completo.

Startups brasileiras precisam levantar 15x mais

O Brasil perde, de longe, para os EUA quando o assunto é investimento em startups. Os norte-americanos levantaram US$ 245 bilhões para startups em 2022, comparado a US$ 4 bilhões no Brasil.

Por isso, há uma diferença no perfil dos investidores dos dois países, na maturidade dos negócios e nas oportunidades de saída para investidores. 

De acordo com o estudo “Venture Capital – Master Guide” produzido pela ACE Ventures, Softbank e Emerging VC Fellows, para atingir patamar similar ao mercado de startups dos EUA, seria preciso multiplicar por 15 o volume investido em early-stage no Brasil.

Essa previsão dos analistas levou em conta o número de startups fundadas, deals no valor de até US$ 1 milhão e o número de IPOs realizados nos dois mercados.

Diferença de tratamento

Outro fator relevante revelado pelo estudo é que há menor atratividade em noticiar rodadas menores e dar destaque para esses deals. Em geral, Pedro Carneiro, diretor de investimentos da ACE Ventures afirma:

“Os empreendedores nos estágios iniciais são os menos representados na mídia e nos estudos. É muito mais comum encontrar notícias das super rodadas. Todo mundo fica sabendo de quem levantou US$ 200 milhões. Quase ninguém sabe dos que captaram US$ 500 mil, porque o nível de exposição é muito diferente.”

O mercado daqui pra frente

Apesar do momento de ajustes enfrentado pelo segmento de mercado, a expectativa é positiva quando observada uma janela de três a cinco anos. Os empreendedores terão passado por momentos de alta volatilidade e negócios com maior potencial de retorno são criados justamente nos momentos de dificuldades.

No mesmo estudo, foi identificado que quase 50% das startups são auto-financiadas. Segundo Pedro:

“Metade das empresas nunca vai receber dinheiro do mercado venture capital, o que não só mostra um pouco de como é o perfil empreendedor brasileiro, como também indica que o primeiro estágio é, normalmente, o mais punitivo. A maioria das empresas fica no early-stage.”

Sobre os investidores, 66% afirmou ter mantido a média no número de investimentos; 20% disse ter aumentado o valor aportado por negócio; e 14% disseram ter reduzido os valores investidos por startup. Para receber uma rodada, da primeira conversa ao dinheiro na conta, o menor período reportado foi de 10 dias e o mais longo 2 anos – a média ficou em 4 meses.

Independentemente do momento da startup, os VCs afirmam que a avaliação de perfil dos fundadores é o ponto de partida para qualquer investimento. E também são citadas a experiência dos founders no mercado (70%), fit do produto (20%) e potencial de mercado (10%) como critérios de prioridade para investimento.

Em linha, investimento-anjo pode crescer 7x

Uma das alternativas para suprir a necessidade de crescimento dos investimentos em startups no Brasil é o aumento dos investimentos-anjo. Segundo Cassio Spina, fundador da Anjos do Brasil, o montante de investimento anjo realizado no país poderia ser ao menos sete vezes maior.

Em pesquisa realizada pelo grupo, o montante aplicado por anjos no Brasil em 2022 foi de R$ 984 milhões. Nos EUA, apenas os investidores-anjo são responsáveis por mais de US$ 20 bilhões anuais.

A economia brasileira representa 7% do PIB americano – ou seja, poderíamos investir muito mais para alcançar um tamanho de mercado proporcional ao tamanho do nosso PIB.

Os desafios para o crescimento

Spina explica que há um conjunto de desafios para expandir os investimentos anjo no Brasil. A primeira barreira é o conhecimento. Muitos investidores com potencial de investir nesse mercado nem sabem que essa modalidade existe, a cultura de investimento no Brasil é bastante recente e ainda muito pautada por investimentos em renda fixa.

Claro, essa preferência do brasileiro por investimentos com ganhos previsíveis e seguros é reflexo também do contexto econômico do país, que costuma contar com taxas de juros altas, desestimulando investimentos na economia real.

Uma mudança na regulação

Falta também o incentivo do Estado para fazer com que os investidores se sintam mais atraídos pelos investimentos na modalidade. É preciso uma política de estímulo para investimento em startups – a maioria dos países conta com uma política do tipo definida.

Nos BRICS, por exemplo, todos possuem regras de estímulo ao investimento em startups. Na África do Sul opera um programa que além de dar isenção de imposto aos ganhos obtidos com investimento anjo, ainda permite descontar 100% do somatório dos aportes realizados no ano do imposto de renda devido.

Esse tipo de iniciativa é recomendada até mesmo pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que identificou que a criação de políticas de estímulo de investimentos tem a capacidade de alavancar as economias.

Cassio Spina, da Anjos do Brasil, foi um dos convidados do Podcap, clique aqui e confira o episódio completo.

100 startups para ficar de olho

A lista 100 Startups to Watch 2023, criada pelo Pequenas Empresas & Grandes Negócios e Época NEGÓCIOS, em parceria com as consultorias Elogroup e Innovc, foi divulgada nessa semana.

Entre maio e julho, 2.076 startups se inscreveram para serem consideradas para compor a lista.  Os negócios foram selecionados por um comitê formado por representantes de organizações, fundos de investimento e iniciativas públicas de fomento, além de jornalistas da Editora Globo. Confira a lista completa.

Informativa, inteligente, exponencial.

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