A primeira do Brasil

Edição 83

A primeira plataforma de investimento em startups a captar R$ 100 milhões.

Mais: Contbank abre rodada de até R$ 6,25 milhão; otimismo para 2024; e a volta dos grandes cheques.

R$ 100 milhões para startups

Acessar uma plataforma online e, rapidamente, investir em uma startup – esse é o principal negócio da Captable, empresa criada em julho de 2019. Quatro anos depois, a empresa está comemorando os primeiros R$ 100 milhões aportados em startups através da plataforma.

Foram 60 negócios que receberam investimentos de 7,5 mil investidores, dentre eles, pessoas físicas e jurídicas que aportaram capital em troca de participação societária nas startups.

As rodadas majoritariamente possuem aporte mínimo de R$ 1 mil – isso não quer dizer, no entanto, que não tenham havido aportes extremamente maiores, como exemplo, a Captable afirma que já foram realizados aportes de mais de R$ 1 milhão e mais de R$ 3 milhões.

Falando de rodadas, a maior delas foi a da CowMed, agritech que levantou R$ 5,9 milhões de mais de 500 investidores – tendo sido a primeira rodada de mais de R$ 5 milhões finalizada sob a nova regra da CVM.

Paulo Deitos, fundador e CEO da Captable, começou antes da Captable a atuar no mercado. E afirma:

“Estou há dez anos no crowdfunding, sou pioneiro nisso no Brasil. Ajudei, lá atrás, a constituir duas associações da área e a CVM a criar a regulação, a edição e a evolução dessa regulação.”

Como funciona da seleção a rodada

Da seleção até chegar a rodada, há algumas etapas a serem vencidas pelas startups. A primeira, é ser aprovada na seleção, que ocorre, primeiro, de forma automatizada, com o preenchimento de um formulário, eliminando as que ainda não estão na fase adequada para irem para a plataforma.

Depois, há um time interno da empresa que analisa números, informações do mercado e concorrência. Então, se identificada como um negócio com potencial, a startup passa por uma série de reuniões e entrevistas, para validar tudo aquilo que foi preenchido no formulário.

Por último, a startup passa por comitês internos e, caso aprovadas, entram no processo de estruturar a rodada – dos acertos jurídicos à estruturação da página e materiais de marketing.

Esse período pode levar de dez dias, quando a startup já vem pronta para a rodada, até alguns meses, quando ainda é necessário conseguir mais informações, realizar ajustes ou entender detalhes para validar se a startup pode participar de uma rodada.

Após a abertura da rodada, os investidores realizam o aporte de capital pela internet em troca de participação na startup.As rodadas levam de horas a semanas para serem encerradas.

Além da plataforma, pioneira no subsequente

Além dos lançamentos, a Captable também foi pioneira em implementar uma plataforma do mercado subsequente, o Captable Marketplace – uma espécie de “mercado secundário” com características próprias.

Através da funcionalidade, é possível vender títulos e comprar participação de uma startup que já realizou uma rodada com sucesso na plataforma de outro investidor, caso tenha investido em um lançamento nos últimos 24 meses.

Pro futuro, mais acesso

Desde seu princípio até o momento do marco dos R$ 100 milhões, a Captable já alcançou R$ 1,1 bilhão em valor de mercado das startups do portfólio. Um cálculo que leva em conta o valuation atual de cada uma das startups que já realizaram captações na plataforma.

Deitos afirma, porém, que esse é apenas o início da trajetória. 

“Há um espaço gigantesco para crescer ainda. O crowdfunding agora está consolidado, com a CVM dando destaque. Com isso, mais players começam a olhar e entender que é uma solução que eles também podem participar e usar”.

Para Paulo, existem sinalizações de que a CVM vai ampliar ainda mais os limites e o alcance do crowdfunding nos próximos anos. E finaliza:

“Digo que a gente não está mais engatinhando, mas estamos dando os primeiros passos”.

Contbank abre rodada de R$ 6,25 milhões

Para começar a contar seus próximos R$ 100 milhões, a Captable também abriu uma nova rodada. A fintech Contbank, abriu uma captação de até R$ 6,25 milhões, ancorada pelo fundo alemão GJL que, com um portfólio de investimentos globais, vem buscando aumentar sua presença na América Latina.

A rodada servirá para ajudar o Contbank a acelerar o crescimento da plataforma digital, baseada em inteligência artificial, para oferecer opções de crédito para MPEs. Tudo isso, através de uma rede de escritórios de contabilidade parceiros. A proposta da fintech é suprir uma lacuna deixada no segmento pelos grandes bancos.

entrada do investidor europeu foi intermediada pela Ilumina Private Advisors, representante da empresa no Brasil.Luciano de Salles, CEO da Illumina Private Advisors, afirma:

“Enxergamos o Contbank como um motor de transformação no mercado de crédito para PMEs”.

Criada há três anos, a Contbank credencia escritórios de contabilidade para a oferta de serviços financeiros e crédito para as empresas clientes e colaboradores. 

Com 1,1 mil agentes de negócio, os contadores, e 10 mil clientes ativos, a fintech já gerou mais de R$ 35 milhões em crédito e afirma que a taxa de inadimplência desse montante ficou em 0,02%.

Jornada até a rodada

O Contbank passou pelo programa de aceleração da Agência de Inovação do Estado de São Paulo (InovaSP) e já realizou uma fusão, em 2022, com a Kikai. Em abril deste ano, lançou um FIDC para financiar parte da expansão, complementada agora com equity.

Paulo Castro, CEO da Contbank, completa:

“Com o aporte vamos expandir nossa oferta de crédito e inovar em serviços financeiros para essas empresas que empregam mais de 50% da população economicamente ativa, de acordo com dados do Sebrae e Ministério da Fazenda”.

90% dos investidores dizem que 2024 será melhor

2023 foi um ano desafiador para as startups e investidores de venture capital. O “inverno”, como ficou batizado o período de retração nos investimentos, demorou a passar. Mas a aposta para 2024 é outra: é esperada uma guinada no próximo ano.

Fundadores e investidores da América Latina projetam uma maior liquidez nesse mercado no ano que vem, quando comparado com 2023. Dentre os fundadores, 77,8% acreditam nessa melhora, 17% acham que o patamar se manterá o mesmo e apenas 4,4% preveem um ambiente pior.

Investidores enxergam um ano ainda melhor: nenhum projetou um cenário pior que o de 2023, 88,9% enxergam melhora e apenas 11,1% preveem cenário igual ao de 2023.

Os dados vêm de um estudo elaborado pela Latitud e divulgados no “The LatAm Tech Report”. Mais de 100 fundadores e investidores da região foram consultados.

Os dados mostram uma mudança relevante no ânimo dos profissionais da área em relação ao ambiente de negócios vivido em 2023. Quando perguntados sobre o ano de 2023, em comparação com 2022, fundadores (36,7%) e investidores (51,9%) avaliaram que 2023 foi mais difícil.

Quando 2023 é contrastado com 2021, quando houve um boom de investimentos em venture capital, o cenário ficou pior para 78,9% dos fundadores e 85,2% dos investidores.

Traduzidos em dados reais, o quadro é bastante claro: em 2021, os aportes na América Latina atingiram US$ 15,97 bilhões – o auge da história recente da região. Em 2022, o montante caiu para US$ 7,9 bilhões. Neste ano, nos primeiros 9 meses, apenas US$ 2,7 bilhões foram investidos, uma redução de mais de 65% na comparação anual.

Apesar da redução no funding, startups continuam em trajetória ascendente

Mesmo com menos capital, as startups apoiadas por fundos de venture capital continuaram sua escalada – ainda que mais lenta. Neste ano, foram 2616 negócios que receberam investimentos, número maior que as 2293 que conquistaram uma rodada em 2022. O Brasil continua representando cerca da metade das empresas que captaram em 2023, com 1293 startups figurando na lista.

Esses números reforçam que há valores menores por aporte e maior racionalidade exigida no uso dos recursos. Ainda, confirma a tese de que há mais dinheiro para novatas do que para o late stage, que costuma demandar aportes mais volumosos.

Por que tanto otimismo?

Alguns eventos dos últimos meses dão confiança para fazer projeções de melhora. Exemplos são os aportes gigantescos recebidos pela QI Tech, de R$ 1 bilhão e da Daki, de R$ 250 milhões. 

Ainda assim, a sócia-fundadora da Latitud, Gina Gotthilf, ressalta que:

“no próximo ano devemos continuar a ver investidores seletivos e fundadores focando em métricas que denotem eficiência e lucratividade em longo prazo”.

A executiva ainda traz outros dois elementos que apoiam a visão mais otimista sobre o futuro:

  • As boas startups conseguiram se adaptar e resistir ao cenário mais complexo. Hoje, apresentam indicadores melhores e, por isso, estão mais atrativas para receber investimentos.
  • cenário macroeconômico aponta uma potencial queda na taxa de juros e desaceleração da inflação no médio prazo. Isso cria uma conjuntura que beneficia o investimento em empresas.

Além do otimismo, os grandes cheques estão de volta

Não são somente as pequenas rodadas que estão ocorrendo mais frequentemente. As rodadas de série B para frente, movimentaram US$ 651 milhões até outubro de 2023, quase 50% a mais que o primeiro semestre do ano. Dos 10 maiores aportes deste ano, 7 deles ocorreram depois de julho.

Isso quer dizer que, mesmo que ainda de forma tímida, os grandes cheques estão começando a voltar.

NeoFeed também conversou com diversos gestores de venture capital para entender a percepção do mercado. A ideia era entender se o capital para growth – especificamente aquele direcionado para os estágios mais avançados – estava de volta. De uma forma geral, a maioria acredita que sim.

Entre os que ainda relutam em acreditar no fim do inverno, a observação mais frequente é de que esses grandes cheques ainda são pontuais.

Ainda assim, não é preciso uma grande análise para perceber que cheques entre US$ 30 milhões e US$ 50 milhões voltaram às páginas de notícias e deixaram de ser raros como eram antes do início do semestre atual.

Exemplos não faltam, startups como QI Tech, Gympass, Creditas, Nomad, Digibee, Mottu, Tractian e Logcomex fizeram rodadas que começaram com no mínimo US$ 30 milhões.

Rodrigo Baer, sócio da Upload Ventures, afirma: 

“Vamos ver uma retomada dos investimentos em growth, conforme as empresas desta nova safra de empresas vão graduando para o estágio de growth. Nesse novo momento, no entanto, esperamos um mercado mais diligente em entender os unit economics das empresas e a escalabilidade delas.”

Os fundos estão de volta, ou se preparando

Outros sinais que indicam uma retomada de um novo normal são: finalmente fundos de growth estão fechando suas captações de investimento; investidores internacionais, que haviam parado de aportar em startups brasileiras, voltaram a investir; e alguns fundos já estão em busca de profissionais com experiência em investimentos em late-stage.

Exemplos desses movimentos são: a captação de US$ 1,8 bilhão da Riverwood Capital, com US$ 300 milhões destinados para a América Latina; a Bicycle Capital que levantou US$ 500 milhões e começa a fazer investimentos no Brasil; e a volta dos investimentos da Tiger Global e Goldman Sachs em startups brasileiras.

Informativa, inteligente, exponencial.

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