Edição 117
M&As com startups crescem e a porta de saída para investidores fica mais aberta.
Mais: a startup que disse não para o Google e iFood quer investir para depois comprar.
M&As no primeiro semestre já representam mais de 60% do volume no ano completo de 2023
O primeiro semestre de 2024 registrou 104 transações de fusão e aquisição de startups no Brasil, o equivalente a 61% do total registrado em todo o ano de 2023.
Esse dado é parte da terceira edição do M&A Deals Report, desenvolvido pela Questum em parceria com o Sebrae Startups, indicando um aquecimento no mercado de M&A.
Aceleração do ecossistema brasileiro
Rafael Assunção, fundador e sócio da boutique de M&A, observa que esses números refletem uma recuperação do ecossistema brasileiro de startups. “Temos uma normalização pós-inverno das startups. Já tivemos a taxa de juros baixa, vivemos a alta, vimos um efeito chicote, e agora estamos chegando a 10%, o que é o normal para o Brasil. Passada a ressaca, voltamos para o volume de atividades,” comenta.
Os segmentos mais ativos foram fintechs, ERP/TI, educação, logística, saúde e seguros.
Novos compradores fazem parte da fórmula
Assunção destaca a entrada de novos compradores como um dos fatores que contribuíram para o aumento das transações de M&A.
Durante 2020 e 2021, as aquisições eram frequentemente realizadas por compradores “em série” como Magalu, B2W, Locaweb e Totvs, que adquiriram até 10 startups por ano.
No entanto, em 2024, a empresa que mais fez transações comprou duas startups. Novos players, incluindo outras startups e scale-ups, entraram no mercado realizando M&As estratégicos para crescimento inorgânico.
“Os compradores seriais se retraíram, principalmente os ligados ao varejo, mas vários novos players enxergaram no M&A uma forma de se conectar com o ecossistema e trazer inovação para o negócio. Ampliou-se o buy side, o volume e perfil dos compradores, dando mais oportunidade para os empreendedores,” explica Assunção.
M&A: uma estratégia de crescimento utilizada por mais playerss
Startups em estágio avançado como CRMBonus, Wellhub (antiga Gympass) e Loft estão adotando a estratégia de M&As para manter a velocidade de crescimento anual entre 30% e 40%.
CRMBonus, por exemplo, captou uma Série B de R$ 455 milhões neste ano após adquirir ChefsClub, Zipper, Giver e Becon em um ano e meio.
“Elas estão acostumadas a navegar em velocidade acelerada. Para continuar ampliando o portfólio, não tem como fazer em casa. Quanto maior a startup, menor é a capacidade de esperar anos para construir algo novo,” indica Assunção.
A porta de saída para investidores
O estudo mostrou que a maioria das transações se manteve concentrada entre R$ 20 milhões e R$ 200 milhões. Assunção alerta que os empreendedores devem ter esses valores em mente ao planejar o futuro de suas startups.
“A não ser que você se torne um consolidador, não adianta captar com valuation de R$ 100 milhões se depois não vai ter quem te compre. A realidade é que a maioria será consolidada. Existe uma janela ótima para fazer negócio, os dados reiteram isso semestre a semestre. A questão é se preparar e colocar o alvo dentro deste espaço, onde as chances são maiores,” conclui.
A startup que disse não para a oferta de US$ 23 bilhões do Google
A startup de cibersegurança Wiz recusou uma oferta de aquisição de até US$ 23 bilhões do Google (Alphabet), optando, em vez disso, por um plano de oferta pública inicial (IPO).
A decisão é um golpe para o Google, que tenta alcançar a Microsoft e a Amazon no mercado de serviços em nuvem.
O Google, que comprou a empresa de cibersegurança Mandiant por US$ 5,4 bilhões há dois anos, poderia ter usado a Wiz para aprimorar suas ofertas de segurança.
A Wiz, com sede em Nova York, se conecta a provedores de armazenamento em nuvem como Amazon Web Services e Microsoft Azure, verificando dados armazenados em busca de riscos de segurança.
Não é todo dia que se recusa US$ 23 bilhões
“Recusar uma oferta como essa é difícil, mas com nossa equipe excepcional, sinto-me confiante em fazer essa escolha”,disse Assaf Rappaport, CEO da Wiz, em um memorando aos funcionários acessado pela Bloomberg News.
Ele acrescentou que os próximos objetivos da empresa são atingir US$ 1 bilhão em receita anual recorrente e realizar um IPO.
A realidade é que a Wiz decidiu que poderia valer mais como uma empresa pública. Preocupações com um possível processo regulatório prolongado também incentivaram a startup a permanecer independente, segundo fontes informadas sobre o assunto.
A Alphabet também desistiu recentemente da HubSpot, uma fabricante de software de gerenciamento de relacionamento com clientes. Esse acordo também poderia ter atraído escrutínio regulatório se tivesse avançado.
Desafios regulatórios
Um alvo de aquisição tão grande quanto a Wiz seria incomum para uma empresa de tecnologia como a Alphabet, que já enfrenta vários desafios regulatórios, incluindo um processo do Departamento de Justiça dos EUA por abuso de posição dominante em buscas e outro relacionado às suas ferramentas de publicidade digital.
A razão do interesse do Google
O Google tem procurado aumentar suas capacidades em cibersegurança como parte de sua estratégia para ganhar participação de mercado em computação em nuvem, onde ainda está atrás da Amazon e da Microsoft.
A unidade de nuvem do Google registrou lucro pela primeira vez no ano passado, e o acordo com a Mandiant aumentou sua credibilidade no espaço de cibersegurança.
Em uma conferência em Las Vegas, o Google mostrou como seu modelo de IA Gemini poderia ajudar os clientes a analisar ameaças e abordar vulnerabilidades. Eric Doerr, vice-presidente de engenharia de segurança em nuvem, destacou a IA como uma ferramenta para ajudar as empresas a serem mais proativas em cibersegurança.
Validação de mercado
Ainda que a oferta não tenha sido aceita pela Wiz, o mero interesse do Google valida a importância da solução.Investidores e analistas creditam a ascensão meteórica da Wiz à sua identificação precoce da segurança em nuvem como um campo pouco explorado com uma base de clientes rica e crescente.
A Wiz afirma que 40% das empresas da Fortune 100 são seus clientes e que está arrecadando US$ 350 milhões em receita anual recorrente.
iFood voltará a investir mais em startups
Em um esforço para acelerar a verticalização dos negócios, o iFood deve intensificar a agenda de investimentos em startups, além de fusões e aquisições. Segundo Diego Barreto, CEO da operação desde maio deste ano, a empresa planeja realizar três investimentos em startups e uma fusão por ano.
Com oito anos de experiência como CFO e líder de inovação no iFood, Barreto substituiu Fabricio Bloisi, fundador da Movile e ex-presidente do iFood, que agora lidera a gestora de investimentos Prosus, controladora do aplicativo.
“Nós estamos olhando para startups com soluções de mercado e também de benefícios”, afirma Barreto. A empresa procura negócios que entreguem novas camadas de serviços e contribuam para o crescimento das verticais. Os primeiros investimentos devem ser anunciados ainda neste semestre.
Os objetivos com os investimentos
O iFood pretende investir em startups nas quais possa assumir o controle no futuro. “Nós não somos investidores financeiros”, disse Barreto no Media Day, evento organizado pela empresa em sua sede em Osasco, São Paulo, para apresentar seu modelo de negócios e investimentos sociais à imprensa.
Os recursos para os investimentos virão da geração de caixa próprio. O iFood dispõe de R$ 1 bilhão por ano para investimentos em inovação, incluindo desenvolvimento de produtos, tecnologia e contratação de pessoas. Este montante será usado para avançar no crescimento inorgânico.
Foco em benefícios
As verticais de mercado e benefícios são as que mais crescem na receita do iFood, que fechou em US$ 1,2 bilhão no ano passado, equivalente a R$ 6,7 bilhões. Juntas, essas verticais representam 40% de todo o negócio da empresa.
As verticais de mercado, que incluem farmácias e petshops, e a fintech, com crédito aos restaurantes e benefícios, crescem a taxas superiores a 50%.
“Benefícios, por exemplo, nós dobramos no ano passado e devemos dobrar de novo agora, chegando ao final deste ciclo com 1,3 milhão de vidas”, afirmou Barreto.
O setor de benefícios movimenta cerca de R$ 150 bilhões por ano e tem visto a entrada de novas empresas devido a mudanças regulatórias. O iFood abriu sua divisão de negócios de benefícios em 2020.
Últimas aquisições
Recentemente, o iFood anunciou a incorporação da Zoop como parceira de pagamentos para lançar seu banco digital para restaurantes, o iFood Pago. A startup estava no portfólio da Movile.
Antes disso, a última aquisição foi da Anota Aí em 2022, uma startup gaúcha que oferece robô de atendimento pelo WhatsApp, cardápio digital e gerenciamento de pedidos dos restaurantes. Hoje, essa plataforma ajuda o iFood a atrair consumidores por meio de outros canais, como o WhatsApp.
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