Briga de fintechs

Edição 70

Uma nova realidade para os neobancos e quem pode ficar para trás nessa corrida. 

Mais: Startup fundada por mulher capta R$ 20 milhões e o caos da 123 Milhas.

Uma briga por atenção

Na vida ninguém quer ser a segunda opção de alguém. Para as fintechs conhecidas como neobancos – que oferecem conta, cartão e serviços bancários – ser o principal é questão de sobrevivência.

Em média, o brasileiro tem conta ativa em pelo menos quatro instituições financeiras. Há uma abundância de players, oportunidades e vantagens brigando pelo seu dinheiro.

Uma briga antiga do sistema bancário é pela principalidade, ou seja, se tornar a principal conta utilizada pelo cliente. Antes, essa briga ocorria só entre os bancos tradicionais. Agora, competem com fintechs. E fintechs competem com fintechs.

Uma pesquisa do Google mostrou que os cinco grandes bancos (Itaú, Santander, Bradesco, Banco do Brasil e Caixa Federal) ainda representam a maioria dos relacionamentos principais. Mas a dominância está em declínio.

Nas fintechs, o Nubank lidera: 42% dos clientes têm o roxinho como o relacionamento principal – se considerados os dois principais relacionamentos dos clientes o número salta para 71%.

Ainda assim, há espaço para as fintechs crescerem. Em média, 34% dos clientes dos bancões os consideram como principal relacionamento, entre os bancos digitais, o índice cai para 17%.

A oportunidade está à porta das fintechs que propuserem melhores condições: 57% dos clientes brasileiros consideram mudar seu banco principal e é inquestionável que as soluções digitais ficarão cada vez mais atraentes.

“O futuro dos nossos serviços financeiros será centrado em dados e tecnologia que servem a satisfação e experiência dos usuários. Muitas das empresas que surfarão essa nova onda de competição ainda estão escalando, ou prestes a serem criadas. Mudanças tectônicas se anunciam para o sistema financeiro do Brasil.” Julio Vasconcellos, fundador do Peixe Urbano e sócio da gestora de venture capital Atlantico.

Lucro do Nubank, desespero do C6

A principalidade importa ainda mais para as fintechs. Olha só: o Nubank reportou em seus resultados fiscais do segundo trimestre que é a conta primária de 58% dos clientes ativos com conta há mais de um ano.

O resultado disso foi o lucro líquido recorde do trimestre: US$ 225 milhões (R$ 1,1 bilhão) – um crescimento de 53% em relação ao trimestre anterior, desconsiderando variações cambiais.

A receita trimestral do neobanco ficou em US$ 1,9 bilhão, outro recorde. Assim a fintech se mantém como uma das empresas mais bem capitalizadas da América Latina, com US$ 2,4 bilhões em excedente de fluxo de caixa.

Se a história é tão animadora para o Nubank, o mesmo não pode ser dito do C6 Bank. Há dois anos o JP Morgan comprou 40% do C6 por R$ 10 bilhões, agora, teve que socorrer o investimento e comprar mais 6% do banco por um valor não revelado (seria um downround?).

E não é falta de crescimento: desde junho de 2021 o número de clientes cadastrados no C6 pulou de 8 milhões para 25 milhões; o portfólio de crédito foi de R$ 9,5 bilhões para R$ 40 bi.

Ainda assim, no primeiro trimestre do ano – último reportado – o C6 aumentou o prejuízo na comparação anual, saindo de R$ 228 milhões para R$ 350 milhões.

Além do crescimento acelerado – até demais – os resultados são um reflexo da piora do mercado, trazendo qualidade de crédito menor e crescimento da inadimplência, o que exige um aumento das provisões por parte do neobanco.

Mas o principal problema é ter conquistado uma grande base de clientes sem conseguir monetizar. Ou seja: a receita gerada pelos clientes é muito pequena quando comparada ao número de contas abertas.

A história de horror do C6 fica ainda mais amarga quando colocada em comparação com as outras fintechs do país: Nubank, Inter e Picpay chegaram à rentabilidade enquanto o C6 reportou um prejuízo líquido de R$ 2,2 bi em 2022, 3x maior que em 2021.

R$ 20 milhões para uma mulher

15 mil startups funcionam hoje no Brasil e, de acordo com a Associação Brasileira de Startups (ABS), apenas 15% delas são lideradas por mulheres. Em 2020, o número de startups fundadas exclusivamente por mulheres era de apenas 4,7% – somando as cofundadas com homens (5,1%), apenas 9,8% dos negócios tinham fundadoras mulheres.

Das cem maiores startups brasileiras, 95 são comandadas por homens. Apenas Ame Digital, Gupy, Sólides, Petlove e Gympass tem CEOs mulheres.

Pior: segundo o Female Founders Report, do Distrito, em 2020, as mulheres receberam apenas 0,04% do total de capital de risco investido no Brasil. 

A Nuu, startup mineira comandada por uma mulher, desafia o status quo: a foodtech levantou R$ 20 milhões nesta semana. A CEO, Rafaela Gontijo, conquistou o aporte com o fundo americano EcoEnterprises liderando, um dos players que são referência em investimento de impacto.

Segundo a fundadora, “o fundo era o primeiro da nossa lista, pela experiência de 20 anos em impacto, e por ser liderado também por mulher”. A CEO do fundo é Tammy Newmark. 

A dedicação às lideranças femininas na Nuu vão além da CEO. A foodtech atraiu Maíra Rabelo, ex-VTEX e Zé Delivery, como chefe de expansão, e Julia Dabés é chefe de operações.

A lista de investidores relevantes é longa: na rodada atual investiram a CamelFarm, dos fundadores da Zee.Dog, a MadFish, do tenista Bruno Soares, o americano Newlin, o Bioma Food Hub e os grupos de anjos GV Angels e Gávea Angels também participaram. Outros nomes que também já investem na startup são Rodolfo Chung, ex-CEO do Zé Delivery e Marcelo Abritta, cofundador e CEO da Buser.

A Nuu hoje conta com fábrica própria, com capacidade de produção de 25 toneladas/mês. O foco exclusivo são itens originados da mandioca. Além de pão de queijo tradicional, colorido, e pizzas com massa de pão de queijo, a Nuu também fabrica bastões e dadinhos de tapioca.

Hoje, a marca está presente em 1,3 mil pontos de venda concentrados no Sudeste e Sul do Brasil. Com a captação, planeja estar em 6 mil PDVs em dois anos, acelerar a pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e investir em marketing. Ao fim do período, prevê multiplicar por oito o tamanho da operação.

A startup pretende continuar expandindo o portfólio de produtos, sempre com base na mandioca e chegar aos EUA, agora com a ajuda de um fundo de investimento americano interessado na expansão.

1, 2, 3, faliu?

A menos que você tenha vivido as últimas duas semanas sob uma rocha, provavelmente você ouviu falar do escândalo da 123 Milhas. Depois do Hurb viver uma situação similar, a 123 Milhas anunciou que não conseguiria honrar as emissões de passagens promo – ou ‘flexível’ – de 2023. 

Para os pacotes de 2024, há a opção de pedir voluntariamente um voucher do valor pago. Para 2023, a única opção é o voucher ou entrar com uma ação na justiça – não há ressarcimento em dinheiro.

Depois do anúncio do cancelamento dos pacotes de 2023, não demorou muito para surgir um pedido de Recuperação Judicial da empresa. E aí os problemas foram escancarados.

Com mais de R$ 2,3 bi em dívidas admitidas no documento, ficou claro que o problema é ainda maior que o percebido inicialmente. Em pouquíssimo tempo, a Justiça deferiu o pedido de recuperação judicial.

A juíza Claudia Helena Batista, da 1ª Vara Empresarial da Comarca de Belo Horizonte, ordenou a suspensão, pelo prazo de 180 dias, de todas as ações e execuções contra as devedoras.

A magistrada determinou, ainda, que as empresas apresentem o plano de recuperação no prazo de 60 dias, sob pena de decretação de falência.

A decisão deixa claro que os consumidores impactados também precisam ser considerados no plano de recuperação. Com “medidas de reparação ao universo dos credores consumeristas pelos danos causados em todo território nacional”.

A defesa da 123 Milhas alegou que enfrenta a pior crise financeira desde sua fundação. As demonstrações financeiras anexadas pela companhia ao documento mostram que a empresa teve um prejuízo líquido de R$ 1,67 bilhão no primeiro semestre de 2023.

Independente das justificativas, fica claro que o modelo de negócio apresentado por Hurb e 123 Milhas não é sustentável e uma bomba-relógio para os consumidores. E fica o alerta: infelizmente, o barato sai caro – especialmente na hora de comprar uma viagem.

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