Em terra de unicórnio, camelo é rei

Diferente dos unicórnios, os camelos não são criaturas mágicas. Eles são reais, resilientes, sobrevivem sem água e comida por meses e, quando necessário, conseguem dar impulsos com velocidade… Ler essas características remete algo pra você?

Mais: investimentos recuam 17% no semestre, mas cenário não é de catástrofe.

#venturecapital

Saem os unicórnios, entram os camelos

Em 2019, uma startup levaria até cinco anos para virar unicórnio – nome dado àquelas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão. Em 2021, essa espécie “rara” ficou tão comum que algumas startups levaram apenas 12 meses para receber a mágica classificação.

Hoje, já são mais de 350 unicórnios ao redor do mundo. A maioria deles nasceu em um período de capital abundante e alta liquidez para investimento em startups.

Mais do que um mero valor de mercado, os unicórnios refletem um modelo de negócio em que um crescimento rápido e agressivo é almejado. Para entregarem esse crescimento acelerado, no entanto, essas startups tiveram de abrir mão de lucratividade.

E isso, até então, não era problema para os investidores – que, mesmo testemunhando operações de alta queima de caixa, acreditavam no lucro a longo prazo e no futuro promissor das suas investidas.

Essa dinâmica funcionou por um tempo… Até que as recentes recessões colocaram uma bomba relógio no colo dos fundadores de startups.

Nisso, saíram os unicórnios, entraram os camelos.

Diferente dos unicórnios, os camelos não são criaturas mágicas. Eles são reais, resilientes, sobrevivem sem água e comida por meses e, quando necessário, conseguem dar impulsos com velocidade. Assim como esses animais, as startups “camelos” priorizam a sobrevivência, sustentabilidade e resiliência.

Com menos capital girando, as startups camelos têm os gastos mais sincronizados com a sua curva de crescimento. Por exemplo, novas contratações acontecem com crescimentos em receita e investimentos em marketing de modo apropriado com o negócio.

Os “unicórnios do Vale do Silício” estão dispostos a subsidiar seus produtos, já que há capital de sobra e eficiência é julgada pelo crescimento da base de clientes, e dão menos atenção aos custos e à lucratividade. Já os camelos entendem que o valor do produto final não deveria ser uma barreira à sua adoção, mas que reflete sua qualidade e posicionamento no mercado.

Para esse tipo de startup, sobrevivência é a estratégia principal, e isso leva tempo. Dentro desse período, os “empreendedores camelos” desenvolvem um modelo de negócio sólido, criam um produto interessante e de qualidade para os clientes e estruturam a distribuição com clareza.

Afinal, eles entendem que a construção de um negócio de sucesso não é de curta distância e que não importa quem chega antes ao mercado, mas quem sobrevive por mais tempo nele.

Energia das marés?

De “vaquinha” não tem nada…

Em países mais desenvolvidos, como o Reino Unido, o crowdfunding é percebido como uma via potente para reunir investidores diversos em torno de empresas com propósito.

Isso levou a Orbital Marine Power a receber um aporte de mais de R$ 25 milhões através de uma plataforma de investimento, que foi somado a outros R$ 25 milhões vindos de um banco escocês.

Esse investimento de R$ 25 milhões via plataforma virou recorde mundial e demonstrou o potencial da modalidade quando ela é entendida como um catalisador de rodadas institucionais.

Mas que energia “das marés” é essa?

Para aproveitar a energia das marés, a Orbital Marine desenvolveu uma turbina capaz de produzir até 2 MW de energia e que pode ser instalada em conjuntos que produzem energia limpa com impacto visual praticamente zero.

Outro diferencial é onde as turbinas ficam no oceano: a tecnologia é flutuante, facilitando a instalação e o acesso para manutenção e resultando em custos e riscos muito menores do que soluções alternativas. Ainda, o modelo flutuante possibilita capturar correntes mais fortes de mares e rios, pois ficam mais próximas da superfície, sendo mais eficiente.

A startup planeja utilizar o dinheiro da venda da eletricidade produzida pelo seu dispositivo para dar retorno aos investidores – tanto o banco, quanto os que participaram através da rodada recorde via crowdfunding. 

Essa realidade deve chegar em breve por aqui…

Muito provavelmente veremos o crowdfunding atingir recordes nos próximos meses por aqui também. Com a instrução CVM 88, que entrou em vigor esse mês, as plataformas ficaram autorizadas a abrir rodadas de captação de até R$ 15 milhões – valor que era de R$ 5 milhões.

Outro ponto que deve tornar a modalidade uma opção para mais startups é o novo limite de faturamento anual para captar: R$ 40 milhões ou R$ 80 milhões para empresas de um mesmo grupo econômico.

Os limites mais altos devem fazer com que negócios em estágios mais avançados possam captar via plataformas e, também, que volumes maiores de investimento sejam realizados pelas startups. Os coinvestimentos também devem aumentar e mudar de perfil: apesar de já ocorrerem, alguns players ainda não entravam nesse tipo de rodada pelos valores pequenos não fazerem muito sentido em suas estratégias.

Agora, com captações maiores, as startups podem compor rodadas com uma mistura de investimentos pulverizados através das plataformas – uma oportunidade de trazer os fãs de uma marca ou apoiadores de uma ideia para dentro do negócio e players institucionais que aportem cheques maiores sozinhos.

Enquanto os unicórnios se desesperam, quem entende de venture capital avisa: o momento também é de oportunidade. Marcelo Claure, responsável pela chegada do Softbank no mercado brasileiro, afirma que o cenário é a oportunidade ideal de investir em negócios realmente disruptivos – a dificuldade na estruturação das rodadas também facilita para que o investidor entenda quais negócios realmente têm potencial – e com valores inferiores aos do passado.

No fim, as grandes beneficiadas nisso tudo serão as startups em estágios mais iniciais, pois essas já enfrentam uma escassez maior de capital. E como estão no início da construção dos seus negócios, possuem uma chance para construí-los já pensando na demanda atual: sem gastos desnecessários ou grandes equipes e, principalmente, preocupadas com lucro… Ou pelo menos com alguma previsão de quando o momento chegará.

Outros grandes investidores, como Jorge Paulo Lemann, e André Maciel, também apontam que esse é o momento para investir, já que os valores de mercado das startups reduziram e os empreendedores estão inclinados a aceitar ofertas mais baixas. Continue a leitura.

Aportes em startups latinas recuam 17%

O volume de investimento captado pelas startups da América Latina recuou 17% no 1º semestre do ano, totalizando US$ 6,8 bilhões. A informação é de um levantamento do Sling Hub.

Respondendo por pouco mais da metade do mercado da região, no Brasil os efeitos foram maiores. O valor aportado foi um terço menor, de US$ 3,7 bilhões. Em junho, foram US$ 410 milhões, 81% menos do que no mesmo período do ano passado, quando US$ 2,13 bilhões em investimentos foram feitos.

Mas nem tudo é tão negativo para todo mundo…

Alguns founders de agtechs estão comemorando, já que suas startups captaram US$ 186 milhões de dólares no período, valor 86% maior que em 2021.

Puxado pelas captações de Gupy, Flash e Sólides, as hrtechs latino-americanas levantaram US$ 306 milhões em investimentos entre janeiro e junho – valor 9 vezes maior que os US$ 35 milhões recebidos um ano antes.

As sementes estão plantadas…

Quem mais sente os efeitos do recuo são as startups de estágios mais avançados, já que necessitam de cheques maiores para sobreviver e eles não estão mais tão disponíveis.

Os investidores, mais cautelosos, estão menos propensos a continuar a fazer apostas em negócios que queimam caixa em ritmo acelerado. Por isso não surpreende que as captações de startups em estágios iniciais tiveram alta no país no primeiro semestre.

O aumento foi de 21,5%, para US$ 1,68 bilhão. O destaque ficou nas rodadas anjo, pré-seed e seed, que apresentaram alta de 86%, passando de US$ 151 milhões entre janeiro e junho de 2021 para US$ 282 milhões no mesmo período de 2022. Já nas séries A e B, o avanço foi de 14%, saindo de US$ 1,23 bilhão para US$ 1,39 bilhão.

Claro que esse aumento nas rodadas menores não reverte o sentimento de cautela do mercado. Mas vale lembrar que, enquanto 2021 foi um ano de recorde histórico e fora da curva, os valores registrados em 2022 estão muito acima dos de 2020.

Em termos de valores, o 1º semestre de 2022 superou em 138% o registrado há 2 anos, e em rodadas, o número está 24% maior.

Quem são os CEOs das 100 principais startups brasileiras

Uma pesquisa do Distrito elencou os CEOs das cem principais startups do país, e ainda traçou o perfil geral desses empreendedores e executivos. De acordo com os dados, a média de idade dos líderes é de 39,5 anos.

Para chegar ao resultado, o levantamento avaliou quais startups têm maior relevância tecnológica no país, de acordo a maturidade das empresas, além de valor total de investimentos captados, faturamento, seguidores no LinkedIn e número de colaboradores e de acessos ao site da empresa.

Dos 100 líderes, 10% são estrangeiros, e apenas cinco são mulheres, sendo elas Anna Saicali (Ame Digital), Mariana Ramos Dias (Gupy), Mônica Hauck (Sólides), Talita Lacerda (Petlove&Co) e Priscila Siqueira (Gympass).

Em relação à idade dos líderes, o mais jovem CEO assumiu a posição aos 19 anos, enquanto o mais velho foi com 57 anos.

Os maiores interesses de atuação são no setor financeiro e de tecnologia da informação, já que grande parte dos CEOs analisados lideram fintechs.

Você pode conferir a lista aqui.

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