Edição 85
Fintechs da América Latina estão em um ponto de inflexão?
Mais: 450 milhões pro Brasil e Loft lucrativa.
Startups com 50% de desconto
Quando se fala em desconto é comum pensar em consumo. Mas, nos investimentos, especialmente em startups, esse também é um termo muito comum. As taxas de desconto têm a ver com o preço dos ativos quando comparados com uma média daquele mercado, segmento ou modelo de negócio.
Para fintechs na América Latina, há um desconto e, também, um ponto de inflexão. Wagner Ruiz, cofundador e membro do conselho do Ebanx, relata que os fundos estão começando a fechar negócios com startups consideradas subvalorizadas.
Para Ruiz:
“Se estamos falando de uma redução de 50% nos preços de dois anos atrás para os fundos, há uma oportunidade”.
Ainda assim, ele relata que é improvável que o investimento em venture capital (VC) na América Latina recupere o impulso em 2024.
Fintechs na América Latina
Sobre a pressão da redução dos investimentos em fintechs na região, Wagner destaca que observou um ajuste em todas as fintechs da região, não apenas em suas visões de crescimento, mas no tamanho da operação.
Especificamente no Brasil – e em parte da América Latina – isso começou há dois anos. Agora, já é possível ver o cenário após os ajustes e presenciar um cenário muito mais animador para essas empresas.
Cenário macro
Mentz também destacou o cenário macro e como esses movimentos devem impactar os negócios de fintechs no próximo ano. Ele lembrou que sobrevivemos a uma pandemia, depois tivemos um mercado mais retraído, com tendência de baixa. Agora, estamos diante de riscos da macroeconomia.
Mas ele lembra: estamos todos no mesmo barco. Não há uma grande mudança na lucratividade desses negócios – até porque, recentemente, quando o mercado de venture capital mudou, todos passaram a buscar lucratividade e não só crescimento.
E ele ainda ressalta: ainda vemos crescimento no consumo, quando observado o mercado internacional.
Pico no trimestre indica oportunidade
Mais do que indicar um ponto de inflexão para as startups brasileiras por conta do pico de investimentos no terceiro trimestre, Mentz ressalta que esse pode ser um sinal de oportunidade.
O mercado de investimentos desse segmento estava praticamente fechado há seis meses, agora, em pequenas empresas (startups) especificamente no Brasil e na América Latina, é possível perceber os investimentos chegando novamente – porque há uma oportunidade.
Wagner destaca que percebeu isso como investidor em outras pequenas empresas, com fundos de venture capital abordando novamente e fundos de private equity olhando para grandes empresas e vendo que estão subvalorizadas.
Para ele, esses movimentos de aproveitar oportunidades virão primeiro. Antes de um movimento mais amplo de mercado em direção a uma recuperação maciça. Por isso, ele vê oportunidades para os próximos 12 meses.
Para a Loft, do laranja ao azul
Para quem viveu no vermelho (ou laranja), a Loft tem muito o que comemorar. A startup do mercado imobiliário anunciou que, depois de muitos cortes de custos e aumento da receita, finalmente atingiu o break-even e agora é lucrativa.
O lado amargo é que os reajustes internos para chegar ao marco incluíram a demissão de 1,2 mil pessoas em cerca de um ano.
A chegada ao azul também foi alcançada em tempo recorde dentre os unicórnios brasileiros. A Loft foi fundada em 2018 e, portanto, atingiu o status em apenas cinco anos.
Segundo a empresa, no 4º trimestre de 2023 ela registrou um aumento de 30% nas receitas em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Reduzir para lucrar
Nessa corrida pelo break-even, um movimento importante foi a redução de custos – representada especialmente por um corte expressivo de equipe.
As demissões em massa começaram em abril de 2022 e as mais recentes ocorreram em março deste ano.
A Loft afirmou, em post no LinkedIn, que:
“Em 2023 direcionamos nossos esforços em acelerar o negócio das imobiliárias, pois acreditamos no modelo de negócios ganha-ganha, onde nossos parceiros crescem junto com a gente”.
A empresa diz estar focada em construir o maior ecossistema imobiliário da América Latina.
Mudança de rota
Mas não foram só as demissões que levaram a Loft ao lucro. No processo, a startup deixou de lado o foco na compra, reforma e revenda de imóveis – que foram o core do negócio nos primeiros anos – e concentrou esforços no marketplace de serviços para imobiliárias parceiras.
Ou seja, a Loft passou a ter mais empresas como clientes e parou de focar no consumidor final. Um modelo mais B2B, desenvolvendo o ecossistema de imobiliárias, depois de ter conquistado a confiança dos consumidores finais.
Próximos passos
Sempre na cabeça dos founders, o IPO também faz parte dos planos da proptech. Mas, Mate Pencz, cofundador da startup, diz ainda não ter nada concreto sobre o IPO.
Em entrevista ao Pipeline, Pencz, explicou:
“Com esse inverno nos últimos dois anos, era impossível falar ou pensar nisso, mas sempre esteve nos planos. Para isso precisamos de uma companhia sólida e o efeito colateral positivo desses últimos dois anos é que nos aproximou do potencial horizonte de listagem”.
R$ 450 milhões para startups brasileiras
Não é só a Loft que está fazendo sucesso em terras brasileiras. As startups do país levantaram cerca de R$ 450 milhões(US$ 90,4 mi) em novembro, segundo levantamento do Distrito.
O montante foi levantado em 36 rodadas e equivale a 55,7% dos investimentos recebidos na América Latina. Ao todo, o ecossistema de inovação latino-americano arrecadou US$ 218,5 milhões, em 70 rodadas, no mês.
Em comparação com o mesmo período de 2022, a quantidade de rodadas no mês na América Latina foi maior. Foram 69 em 2022 e 70 em 2023. Em comparação ao mês anterior, no entanto, houve queda significativa no volume aportado. O montante total investido em outubro foi de US$ 398 milhões e, agora, de US$ 218,5 milhões.
No acumulado do ano de 2023, as startups da região levantaram US$ 2,88 bilhões em 701 rodadas.
A queda no número de investimentos no Brasil foi maior que a observada na América Latina. O número de aportes de novembro deste ano (36) foi 14,2% menor que o mesmo mês do ano anterior (42).
Em volume aportado, o Brasil também registrou queda: em outubro as startups brasileiras captaram US$ 272,8 milhões, já em novembro foram US$ 90,4 milhões.
Gustavo Gierun, CEO do Distrito, explica a situação em nota:
“Diante desse resultado, vemos que o Brasil continua sendo uma peça fundamental para os investimentos na região. Fica claro que a resiliência e o potencial de crescimento das empresas brasileiras reforçam a sua posição como um player significativo no cenário global de inovação”.
Segmentos mais investidos
As rodadas ficaram mais concentradas no estágio inicial: foram 55 deals entre investimentos anjo, pré-seed e seed. Os setores que mais levantaram rodadas foram fintech (14), retailtech (7) e healthtech (6). Em volume de capital, as fintechs também lideraram – foram US$ 68,7 milhões levantados no mês.
A principal rodada de novembro foi a da Logcomex, startup especializada em comércio exterior, que conquistou uma rodada de US$ 33 milhões liderada pela Riverwood Capital.
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