IPO ou IP’NO’?

Edição 68

O otimismo com as startups significa a volta dos IPOs?

Mais: o início do boom nas agtechs, o fundador preso da FTX e a fome do Softbank.

IPO ou IP*NO*?

Acontece nos EUA, acontece no Brasil. A onda de otimismo com as empresas de tecnologia está cada vez mais parecida com um tsunami. As grandes valorizações da Bolsa americana ficaram concentradas em empresas tech: Apple, NVIDIA, Tesla, Nubank…

Também começa a ocorrer uma reabertura do mercado de IPOs de tecnologia: nos EUA, a Oddity fez uma estreia e tanto – lembrou até a exuberância de 2021. De janeiro a março foram onze operações de IPO por meio de SPACs, com valor médio de US$ 82 milhões.

Sobre os IPOs por aqui, a chefe de listagens da América Latina na Nasdaq, Ivana Ferreira, afirma que as condições estão encaminhadas para a retomada dos IPOs até o final do ano. A expectativa é que o mercado latino siga o mesmo caminho em 2024.

Uma das primeiras brasileiras a realizar um IPO neste ano deve ser a nuvini, uma holding de SaaS, que se associou a um SPA e deve estrear na Nasdaq em breve.

Outro sinal do otimismo foi dado pelo mercado de M&As. As fusões e aquisições foram marcadas por um negócio recorde: a venda da Pismo para a Visa por US$ 1 bilhão. Há também uma proposta da Evertec para adquirir a Sinqia.

Geopolítica também traz otimismo

Com restrições de investimento dos EUA na China em Venture Capital – que ocasionou até a saída da Sequoia na China –, valuations altos nos EUA e Índia e poucas empresas de tecnologia interessantes na Europa, é esperado que uma parte do fluxo de venture capital venha para a América Latina.

Ainda que 0,5% do dry powder – capital arrecadado por fundos para investimento ainda não aplicado – venha para a LatAm, seria suficiente para explodir o volume de investimento anual da região em mais de 75%.

O mercado doméstico do Brasil – já gigante – deve continuar em crescimento, com a ajuda das exportações. Assim, empresas de tecnologia com modelos disruptivos, como Inter, Nubank, iFood e Mercado Livre, ultrapassam a marca dos 30% de crescimento ao ano composto nos últimos anos – ainda que a economia tenha estagnado.

Inter, Vtex e Mercado Livre, por exemplo, reportaram resultados que excederam as expectativas de crescimento e rentabilidade de analistas. Mesmo em economias com pouco crescimento, continuaram ganhando participação no mercado.

Isso tudo quer dizer que, no Brasil, há sim demanda, crescimento e capital disponível para empresas de tecnologia com excelentes fundadores, modelos interessantes e crescimento sustentável. No médio a longo prazo, também há um claro caminho para próximas rodadas e IPOs.

Talvez 2021 não ocorra agora novamente: da última vez, levou 20 anos – as bolhas de tecnologia ocorreram em 2001 e 2021. Mas não dá para ficar de fora aguardando esse momento, é melhor focar em encontrar e construir negócios sólidos agora e não correr o risco de ficar aguardando 2041.

De grão em grão, o agro enche o papo

A sorte das startups do agro está para mudar. Quem observa o mercado de investimento em startups brasileiro fica perplexo ao perceber que ainda não há um unicórnio do setor. As grandes saídas, com valorizações estratosféricas, ainda não ocorreram.

O segmento vive um período parecido com o que as fintechs viveram antes do surgimento dos grandes cases de sucesso no país. O Nubank, por exemplo, completou 10 anos em 2023 – você lembra de alguma fintech com sucesso estrondoso antes dele? Provavelmente não.

Acontece que o venture capital vive de ciclos, as empresas precisam passar por estágios de investimento – e crescimento – para galgar o caminho até o topo. No caso das fintechs, esse caminho começou antes. Agora as agritechs começam a viver o início dessa curva.

O agro é um dos poucos setores que vive descolado da realidade de fundos que vivem dificuldades para captar investimento. Prova disso é que um novo fundo da The Yield Lab Latam já conseguiu levantar US$ 30 milhões dos US$ 50 milhões que pretende investir em agtechs na América Latina nos próximos 5 anos.

Além disso, há outros US$ 20 milhões em compromissos ainda não assinados.

Segundo o Crunchbase, no primeiro trimestre de 2023 houve uma queda de 63% nos investimentos em agtechs mundialmente. Juntas, as empresas do setor captaram US$ 1,44 bilhão no período. Ou seja, há um vácuo a ser preenchido pelos fundos capitalizados para investir no setor.

No caso das agtechs e foodtechs, os recursos de investidores estratégicos e de impacto estão crescendo e ajudando a manter estável o volume de aportes em startups em estágio inicial – o foco da gestora The Yield Lab Latam.

Esses investidores estratégicos incluem empresas que querem investir em inovação tecnológica e os de impacto ocorrem em negócios que conseguem comprovar o atingimento de suas metas de sustentabilidade.

Esse investimento realizado por empresas e investidores engajados está crescendo e gera mais valor para as startups: o investidor costuma interagir e ajudar mais os negócios – são até potenciais clientes, enquanto o investidor financeiro costuma participar menos do processo de validação das tecnologias.

Outra vantagem do fundo deve ser a tese de investimento: a preferência por startups em estágio inicial se traduz em investimentos menores que só precisarão ser reforçados com aportes mais significativos daqui 18 a 24 meses. A expectativa é que até lá o ciclo econômico já esteja significativamente mais favorável a investimentos de risco.

Alguns dos investidores do fundo são o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Grupo Bimbo, maior produtor de pães do mundo, e a mineradora chilena SQM. Além disso, há conversas com a Sonen Capital, que administra o Latam Impact Fund, e o mexicano Fondo de Fondos.

Até outubro, uma série de apresentações do fundo deve ocorrer em diversos países e é possível que o tamanho do fundo acabe sendo até maior que o planejado.

Dentro do agro em cada país a The Yield Lab Latam vê destaques distintos: no Brasil e na Argentina, o maior potencial está nas agtechs que melhoram a produtividade das culturas no campo; no Chile, brilham as empresas de biotecnologia para produção de alimentos de alto valor agregado; já no México, as foodtechs de entrega de comida aos consumidores são destaque.

Cripto fail

Sam Bankman-Fried, o fundador e ex-CEO da FTX, exchange cripto que faliu, foi condenado à prisão. A reviravolta ocorreu depois que um juiz federal de Nova York revogou a fiança do executivo.

Sam já estava em prisão domiciliar na casa dos pais em Palo Alto desde que foi preso em dezembro – após o escândalo da crise de liquidez da exchange e subsequentes acusações de fraude.

A prisão domiciliar foi revogada porque Sam forneceu documentos à mídia para tentar intimidar uma testemunha do caso.

Do céu ao inferno

A FTX viveu um drama digno de filme: aproveitou a alta do mercado de criptomoedas para escalar posições no setor de investimentos alternativos e se tornar uma das líderes em criptomoedas antes de declarar falência.

Em pouco tempo – semanas – Sam deixou de ser cortejado por figuras como políticos e celebridades e passou a ser um réu criminal que pode enfrentar décadas de prisão.

Sam então foi preso nas Bahamas, onde a FTX era sediada e, posteriormente, extraditado para os EUA, liberado sob fiança para prisão domiciliar.

Desde então, Sam foi repreendido diversas vezes por seu comportamento enquanto aguardava o julgamento. O ex-fundador ultrapassava os limites do que podia fazer no período. Por exemplo, em janeiro, promotores apresentaram evidências de que Sam havia enviado mensagens para um ex-executivo da FTX que poderia servir de testemunha no caso.

Sam possuía expertise para tentar encobrir seus rastros: utilizou uma VPN, rede privada virtual, para tentar passar despercebido. À época, o juiz apenas determinou requisitos mais restritos para que sites Sam podia acessar e impediu a comunicação com outros ex-funcionários da empresa.

O advogado de Sam já alegou que irá recorrer da decisão que colocou fim à liberdade do polêmico ex-fundador da FTX.Resta saber o que ocorrerá nos próximos capítulos.

O Softbank tá com fome

Falando em próximo capítulo, na edição anterior (#67) trouxemos a revelação da volta do lucro ao Vision Fund do Softbank. A responsável pela retomada da lucratividade foi a Arm, uma empresa de chips para inteligência artificial.

Agora, parece que o Softbank quer ir além antes de colocar a empresa na esteira do IPO: a gigante quer deter 100% das ações antes de abrir o capital da empresa. 

Ou seja: o Softbank planeja comprar (e, portanto, dar liquidez) toda a participação do Vision Fund na Arm. Assim, os investidores receberiam uma boa notícia – de que o fundo estava dando retornos relevantes novamente – antes.

Vale lembrar: o Vision Fund 1 foi criado pelo próprio Softbank em 2017. Portanto, a linha do tempo fica assim: em 2016 o Softbank comprou a Arm por US$ 32 bilhões. No ano seguinte, vendeu 25% da participação para o Vision Fund 1 – agora, quer comprar de volta.

Caso o Vision Fund e o Softbank entrem em um acordo, o banco de investimento entregará um ganho imediato – e inesperado – para os investidores do Vision Fund 1. 

Isso incluiria investidores importantes do fundo, como o Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita e o Mubadala de Abu Dhabi – dois dos maiores prejudicados com apostas falhas do Softbank, em startups como WeWork e Didi Global.

O interesse do Softbank é dar o retorno mais rápido aos investidores do fundo, mas, também, ter a chance de ver o IPO ser ainda mais valorizado e pegar essa rentabilidade extra para si. 

Afinal, a oferta pública da Arm está extremamente hypada. Prevista para ocorrer em setembro, o IPO pode levantar até US$ 70 bilhões e conta com candidatas a investidores âncora como Amazon, Intel e Nvidia.

Masayoshi Son, presidente do Softbank, disse à Reuters que prefere ficar neutro em relação às conversas do Vision Fund 1 e Softbank. A decisão será do fundo, que precisa decidir, em prol dos investidores, se é melhor ganhar agora ou esperar uma valorização maior futura – mas que pode ser menor que o que o Softbank está disposto a pagar.

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