Quanto vale um IPO?

O IPO da Instacart foi um bom negócio? Entenda.

Mais: Novo presidente e o desafio do mercado de créditos de carbono.

O IPO da Instacart foi um bom negócio?

Depois do IPO de arrasar da Arm, que comentamos na edição 72, mais uma startup está fazendo seu IPO nos EUA. A Instacart, empresa de entrega de alimentos, fixou no dia 18 o preço de suas ações em US$ 30 para seu IPO, no topo das expectativas, levantando US$ 660 milhões.

Parece um bom negócio, né? Com o valor do IPO, a empresa ficou avaliada em US$ 9,9 bilhões. 

Porém, o valor ficou bastante abaixo de sua última rodada de captação em  2021, quando foi avaliada em US$ 39 bilhões. À época, a empresa se beneficiou do fechamento das lojas durante a pandemia, além de um mercado de venture capital extremamente líquido. Com isso, surfou uma onda de crescimento acelerado e garantiu uma avaliação nas alturas.

Durante esse período de bonança, diversos investidores imploraram para que a startup fizesse seu IPO, quando o mercado de ações estava em alta e a pandemia acelerava o crescimento da startup.

Entretanto, a startup relutou em abrir o capital – agora, dois anos depois, a Instacart se viu forçada a fazer o IPO em um mercado muito mais desafiador e, portanto, por uma fração do preço que teria alcançado em seu pico.

O que isso significa pros investidores?

Independente do forte declínio do valuation da startup, alguns investidores ganharão muito dinheiro. Mas poderiam ter ganhado MUITO mais. Por outro lado, alguns investidores não tiveram tanta sorte.

Aqueles que investiram no princípio da startup, há uma década, terão retornos de 50x o valor investido. Os que investiram no hype não terão uma saída tão agradável. 

Confira as maiores estimativas de retorno baseadas na mediana do preço do IPC de US$ 27, de acordo com o The Information:

  •  Y Combinator – investiu US$ 75 mil, que no IPO valerão US$ 126 milhões, garantindo um múltiplo de 1680 vezes.
  • Initialized Capital – investiu US$ 150 mil, que no IPO valerão US$ 17 milhões, um múltiplo de 113x.
  • Starling Ventures – investiu US$ 76 mil, que valerão US$ 11 milhões no IPO, um múltiplo de 145x.
  • Canaan Partners – investiu US$ 2,6 milhões, que valerão US$ 196 milhões no IPO, chegando a um múltiplo de 75x.
  • Khosla Ventures – investiu  US$ 6 milhões, que valerão US$ 277 milhões no IPO, multiplicando o capital inicial em 46x.
  • Sequoia Capital – investiu US$ 300 milhões, que valerão US$ 1,4 bilhão no IPO, multiplicando 4,7x o investimento inicial.
  • Andreessen Horowitz – investiu US$ 126 milhões, que valerão US$ 

254 milhões no IPO, um múltiplo de 2x.

Pode parecer que são retornos interessantes, mas é importante lembrar que os fundos de investimento precisam entregar diversos investimentos de sucesso para que gere retornos significativos que superem a performance dos retornos medianos.

Em conclusão, a Instacart é um exemplo clássico de história de sucesso no venture capital, e, especialmente, os investidores que participaram durante as rodadas iniciais tiveram retornos extraordinários.

Depois do IPO

Vale destacar que após o IPO, as ações da Instacart estão em alta! Olha só: as ações da empresa começaram a ser negociadas no dia 19/09 na Nasdaq, com valor 43% acima do IPO já na estreia, segundo a Bloomberg. 

“Os papéis foram negociados a US$ 42 cada, depois de serem vendidos a US$ 30 no topo de uma faixa comercializada para levantar US$ 660 milhões. As ações subiram 31%, para US$ 39,21, às 13 horas em Nova York, dando à empresa sediada em São Francisco um valor de mercado de US$ 10,9 bilhões.”

Novo presidente no reino do crowdfunding

Tem presidente novo no pedaço. A Associação Brasileira de Crowdfunding de Investimento (Crowdinvest) elegeu Paulo Deitos, cofundador da Captable, como o seu novo presidente. 

O executivo terá um mandato de dois anos e trabalhará ao lado de diretores de outras plataformas.

Paulo é um nome bastante conhecido no setor. Além de cofundar a Captable, foi diretor-executivo da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs) e presidente da Alianza Fintech Iberoamericana, com sede no México. Atualmente, também é professor de um MBA da Universidade Católica da Argentina (UCA), onde leciona sobre o ecossistema brasileiro de fintechs.

“É uma grande oportunidade representar o setor ao lado de empreendedores que estão muito alinhados em disciplinar e autorregular o setor de crowdfunding de investimentos”, afirma o novo presidente da CrowdInvest.

Entre as prioridades do biênio, está estreitar o relacionamento com investidores-anjo e fundos de venture capital, assim como qualificar as empresas ofertantes em rodadas de captação e integrar o segmento a outras modalidades de funding.

Também será prioridade, o trabalho para divulgar o crowdfunding como modelo de investimento e especializar as plataformas devidamente registradas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

O setor que captura mais que carbono

Os créditos de carbono estão na moda. Na contramão da redução dos investimentos em startups no ano passado, projetos que envolvem remoção, captura e estoque de carbono captaram, de julho de 2022 a julho de 2023, R$ 2,4 bilhões, segundo o Crunchbase.

Esses negócios, que desenvolvem novas tecnologias para compensar o impacto de indústrias intensivas em emissões de carbono, ainda são novos – mais de dois terços entraram para a base da pesquisa nos últimos 4 anos.

Ainda assim, essas startups, também conhecidas como climatetechs, garantiram investimento importante para ganhar escala, abrindo espaço para rodadas de captação.

Uma das presentes na lista é a brasileira Mombak, de remoção de carbono pelo reflorestamento da Amazônia, que teve uma participação minoritária adquirida pela gestora de investimentos de uma seguradora francesa e que também se comprometeu a injetar US$ 49 milhões nos projetos.

A razão por trás dos investimentos

O fluxo de investimento aumentado vem da constatação de que para manter o aumento da temperatura global em 1,5 ºC até o fim do século não será suficiente reduzir as emissões de gás carbônico, será preciso removê-lo da atmosfera.

Ou seja: há uma corrida para o desenvolvimento de soluções para esse problema, que receberá grandes quantias de investimento e valorizará as startups do segmento.

Vale lembrar que os grandes players da indústria vivem uma crise de confiabilidade, com mais de 90% dos títulos da maior emissora de crédito de carbono do mundo, a Verra, sendo considerados inúteis recentemente.

Uma chance para as novatas

Com os tropeços das gigantes, abre-se espaço para pequenas novas entrantes no segmento, que possam eliminar os intermediários e, de fato, criar impacto positivo no planeta. Uma chance de ouro para quem acessar essas empresas no início de suas jornadas.

O incentivo do mercado de carbono é claro: alinhar a economia com a floresta em pé. No entanto, as soluções existentes nem sempre são pensadas de dentro para fora. São muitas vezes importadas de uma realidade diferente, o que limita o acesso a poucos.

Por exemplo, a grande maioria dos projetos ocorre em áreas privadas. Ou seja, empresas e propriedades que já possuem grandes extensões de terra e recursos, adotando uma abordagem estritamente ambiental, muitas vezes deixando de contemplar populações tradicionais ou considerando-as externas ao projeto.

Da forma como tem sido executado, o modelo de crédito de carbono pode não ser a  resposta para resolver a crise climática. Precisamos usar a criatividade e o empreendedorismo dos jovens brasileiros para integrar comunidades tradicionais como coautoras e protagonistas dos projetos.

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