Por muito tempo, startups gigantescas, também conhecidas como unicórnios, não tinham muitas preocupações com o capital, que circulava “livremente“ pelo mercado. Mas com os investimentos desacelerando e o capital ficando cada vez mais “caro” de conseguir, estas mesmas empresas vêm apresentando os piores resultados.
Quais as principais implicações de o capital estar tão “caro” e cada dólar cada vez mais valioso?
Essas perguntas foram respondidas em um material interno da Sequoia Capital, fundo que já levantou U$S 20 bilhões para aportar em companhias como Apple, Google e Airbnb.
Com a nova realidade, o mercado está reavaliando modelos de negócios e reconsiderando quanto capital dar às empresas para lucros que existirão somente daqui há muitos anos.
Recomendações para as startups
Para a Sequoia, isso não importaria tanto se tratasse apenas de novos múltiplos atribuídos a cada dólar de receita, mas indicadores de mercado, como participações (equity) mais caras, taxas de juros e curvas de rendimento, estão sinalizando para uma continuidade de deterioração econômica.
A gestora, assim, sugere aos fundadores das empresas que não esperem uma rápida recuperação, como aconteceu após a pandemia, uma vez que os recursos monetários e fiscais que impulsionaram aquela retomada “se esgotaram”.
O documento também sinaliza que estamos apenas começando a ver como um custo maior do dinheiro está impactando também a economia “real”. Por exemplo, no setor de imóveis, uma nova hipoteca é 67% mais cara para um mesmo imóvel do que era há 6 meses. É o maior choque percentual em 50 anos. Por esse motivo, os mercados já estão prevendo uma forte desaceleração no setor, com as construtoras caindo 30%.
Chamadas como esta estão tendo em diversos setores em resposta à dinâmica recente do mercado. O “aperto do cinto” e a reavaliação das prioridades terão efeitos de segunda e terceira ordem, pois os custos de uma empresa representam a receita ou o poder de compra de outra.
Escapando da “espiral da morte”
O período de valuations elevados e da abundância de capital vem perdendo espaço para uma nova ordem: dinheiro em caixa. A máxima de que as startups precisam queimar dinheiro durante o período inicial de seus negócios para crescer e dominar um mercado continua valendo… Mas por menos tempo. Para quem já está no mercado há mais de meia década e capta centenas de milhões de dólares, as exigências serão outras.
Os investidores estão medindo o valor das empresas por outra régua e, agora, não querem apenas saber de receita, mas também de lucro.
Esse movimento de mercado chega, principalmente, nas gigantes. Depois de aguardar anos para realizar o IPO, o Nubank, por exemplo, encontrou um mercado com menos apetite por resultados futuros. E o efeito disso ocorreu na correção de preço do valuation das empresas de tecnologia nas bolsas de valores mundiais, que representou uma queda de mais de 65% nas ações do Nubank.
Já a Uber teve essa nova realidade traduzida em um e-mail interno do CEO Dara Khosrowshahi, que escreveu: “precisaremos mudar“. Em um momento de incerteza econômica global, os investidores buscam segurança. E, embora a Uber seja líder de mercado, os investidores não sabem o quanto isso de fato vale. Ainda que Khosrowshahi tenha destacado o plano de lucro para 2024 de US$ 5 bilhões, os investidores continuarão ansiando por dinheiro em caixa.
E para isso, a Uber terá de abrir mão de alguns projetos e continuar com aqueles que menos consome capital.
A mensagem da Sequoia se manteve em ressonância com as de outros fundos importantes do ecossistema, como Craft Ventures e Y Combinator. No final, as empresas que se movimentarem rapidamente e estiverem mais adaptáveis à mudança, serão as mais propensas a escapar da “espiral da morte”.
As grandes beneficiadas estão sendo as startups em estágios mais iniciais, pois essas já enfrentam uma escassez maior de capital. E como estão no início da construção dos seus negócios, possuem uma chance para construí-los já pensando na demanda atual: sem gastos desnecessários ou grandes equipes e, principalmente, preocupadas com lucro… Ou pelo menos com alguma previsão de quando o momento chegará.