Criar uma fintech dentro da empresa – seja ela de qual segmento for – virou tendência: Magalu, Americanas, Mercado Livre, Renner e Movile são alguns exemplos de empresas que escolheram pegar para si um pedacinho do mercado de serviços financeiros inovadores.
Criar ou adquirir uma fintech para chamar de sua cria uma oportunidade de diversificar a receita da empresa, criando uma nova vertical. Um exemplo de sucesso dessa estratégia foi a criação do Mercado Pago pelo Mercado Livre. Já a Renner viu seu resultado prejudicado pela má performance da Realize, sua vertical de serviços financeiros.
O que aprender com o Mercado Livre?
Em meio à desaceleração do e-commerce, o Mercado Pago foi responsável por segurar o crescimento da receita da empresa e demonstrar que há uma oportunidade da vertical financeira se tornar cada vez mais representativa no negócio.
De acordo com Andre Chaves, vice-presidente de estratégia e desenvolvimento corporativo do Mercado Livre, “o negócio de e-commerce está muito desafiador neste ano, especialmente nas vendas de eletrônicos”. Essa desaceleração fica por conta da inflação e juros mais altos, que reduziram a renda dos consumidores.
A realidade do braço de fintech, no entanto, compensou a desaceleração: o Mercado Pago teve volume de pagamentos no trimestre 52,9% maior em dólar, comparado ao mesmo período de 2021 – foram US$ 32,2 bilhões transacionados. Já na área de crédito, a carteira fechou em US$ 2,8 bilhão – mesmo com redução na concessão de crédito por conta do aumento da inadimplência.
Por que a fintech deu errado para a Renner?
Com estratégia similar, a Renner não teve a mesma alegria que o Mercado Livre. No caso da Realize, o braço de fintech da empresa, a deterioração do cenário de crédito no Brasil, com maior endividamento e mais inadimplentes, resultou em níveis mais elevados de provisionamento de perdas.
A grande diferença está no fato da Realize ter a maior parte do seu resultado advindo de operações de crédito, não tendo uma vertical de pagamentos como o Mercado Pago. Com isso, a dependência da concessão de empréstimos e de que estes sejam pagos, resultou numa piora drástica do faturamento da Realize.
Comparado ao terceiro trimestre de 2021, a Realize amargou desempenho 74,5% pior nesse trimestre, chegando a um resultado líquido de R$ 19 milhões no período. Pior: o acumulado dos nove meses de 2022 foi 40,7% inferior ao de 2021.
O resultado negativo da fintech da Renner foi compensado pelo bom desempenho no varejo: o lucro líquido, no trimestre, cresceu 50% para R$ 257,9 milhões. No ano, o lucro passa de R$ 809 milhões, número quase quatro vezes superior ao do mesmo período de 2021.
Ainda assim, as ações caíram mais de 4% no dia da divulgação dos resultados do trimestre, impactadas pela baixa performance da Realize.
Como acertar na hora de criar uma fintech
A tendência da fintechização de empresas de diferentes segmentos é resultado de um interesse óbvio: capturar receita extra ao receber pagamentos, conceder crédito e oferecer serviços financeiros. Essa seria uma receita que ficaria com um terceiro, caso a empresa não criasse uma vertical própria.
Essa é uma atitude acertada para a maioria das empresas, que veem suas fontes de receita diversificadas e, na maioria das vezes, essa pode ser uma saída para quando outras partes do negócio não vão bem.
No entanto, mesmo dentro da vertical financeira, é preciso diversificar: criar uma fintech para oferecer somente (ou majoritariamente) um tipo de serviço financeiro pode criar um potencial de prejudicar a empresa como um todo. A Realize apostou quase exclusivamente em crédito – não deu certo. O Mercado Pago, por outro lado, uniu pagamentos e crédito e conseguiu apresentar crescimento.
Para desenvolver suas verticais financeiras, as empresas costumam adquirir fintechs que já possuam a base tecnológica e o know-how necessário para fazer com que o negócio comece a gerar retorno rapidamente.
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