Nem toda startup pode se dar ao luxo de queimar dinheiro para crescer. É verdade. Mas muitos dos modelos de negócio que tornaram a vida da sociedade melhor nos últimos anos seriam impossíveis caso não tivessem tido capital para crescer (e queimar). Em uma realidade paralela, nenhum deles teria existido.
Inovar não é barato – e inovar em grande escala, menos ainda. Para negócios que possuem margens apertadas de lucro e necessidade rápida de crescimento, ter capital disponível para dar prejuízo por alguns anos pode ser a diferença entre viabilidade e impossibilidade.
Entenda a dinâmica e o equilíbrio necessário para o sucesso.
A realidade paralela
Uber. Nubank. Netflix. Spotify. iFood. É inegável que essas startups mudaram o modo como uma grande parcela da população se desloca, utiliza serviços bancários, consome entretenimento e se alimenta. Você pode não ser fã do modelo de negócio de alguma delas, mas é improvável que não consuma o serviço de pelo menos uma.
Em uma realidade paralela, onde não houvesse capital de investidores dispostos a apostar em um lucro – muito – distante, nenhuma delas existiria. Nessa realidade, ainda usaríamos táxis, estaríamos sujeitos às taxas e falta de digitalização dos bancos tradicionais, ainda consumiríamos programas de TV em um horário marcado, compraríamos músicas e ligaríamos para o restaurante preferido para pedir comida.
É uma realidade que provavelmente complicaria a vida da maioria de nós. Mas todos esses serviços dependeram de capital intensivo em seu princípio para só, então, fazer sentido como modelo de negócio. Dependendo de capital próprio, não teriam durado um ano ou levariam anos para expandir para outras regiões.
Teriam perdido a corrida pelo mercado e morrido na praia.
Isso não quer dizer, é claro, que não tenha havido exageros ou descontrole no comando desses negócios ou na forma como foram concebidos em seu princípio, ou que não haveria formas de ser mais eficiente desde o começo. Mas o fato é que foram os testes massivos, expansão agressiva e seus milhões de usuários que os tornaram negócios atrativos e, por fim, viáveis.
Na realidade atual, equilíbrio é o segredo
A história do Venture Capital é escrita em hipérboles. De sucessos absurdos a falhas monumentais, os investidores de Venture Capital apoiaram a construção, de um lado, de negócios incríveis que revolucionaram a sociedade, e de outro, de startups que não se sustentaram e se tornaram especialistas em queimar dinheiro sem, infelizmente, produzir valor para a sociedade.
O segredo para o sucesso das startups daqui para frente será entender que a melhor forma de atuar nesse mercado não está nem no excesso de queima de capital que ocorreu, principalmente, em 2020 e 2021 e nem em somente desenvolver negócios que possam crescer apenas com o capital gerado por eles.
O equilíbrio será o que permitirá que novos Netflix, Uber e Nubank continuem nascendo – já que dificilmente seriam negócios lucrativos desde o princípio – ao mesmo tempo que corrigirá excessos que poderiam ter comprometido a viabilidade deles no princípio, não fosse a abundância de capital disponível no início de suas jornadas.
Correção é o nome do jogo
Correção. A palavra é uma tendência quando se fala da situação atual do Venture Capital. A intenção é mostrar que os valuations dos últimos anos eram excessivos e não que hoje haja uma subvalorização das startups. É um momento de corrigir o hype e não de penalizar o ecossistema.
Mas a correção vai além do sentido financeiro: o momento também corrigirá posturas megalomaníacas de CEOs que fundaram seus negócios em meio à era de ouro do Venture Capital e aqueles empreendedores que se inspiraram neles para criar seus negócios.
O momento é de atenção e o resultado de quem souber aprender com ele será de maior resiliência e capacidade de ter sucesso – em qualquer situação econômica ou clima do Venture Capital. Para o ecossistema, é uma chance de corrigir os erros para se tornar ainda mais forte – sem deixar de construir um futuro melhor e mais conveniente para toda a sociedade.