Em tempo de correção, fundos de investimento precisam correr para ajustar suas práticas e demonstrar aos investidores que estão buscando corrigir excessos e desalinhamentos. O objetivo? Voltar a mostrar que dão lucro. E o Softbank também está nessa.
No caso da Tiger Global, isso significou abandonar, quase que completamente, o Venture Capital e reforçar sua posição como investidor de Private Equity. Deixa o risco maior de lado, embora também possa perder algumas chances de grande valorização.
No caso do Softbank, no entanto, o foco continua sendo no Venture Capital, mas agora priorizando o early-stage e com uma estratégia mais criteriosa.
A nova estratégia do Softbank na América Latina
Em entrevista, Alex Szapiro e Juan Franck deram o tom: o Softbank não vai reduzir os investimentos na América Latina e nem pretende se concentrar apenas na gestão do portfólio atual.
Além dos follow-ons, uma das estratégias comuns para períodos de retração – focar nas empresas já investidas – o Softbank investiu em pelo menos 4 negócios desde março na região: Trela (US$ 25 mi, março), Solfácil (US$ 100 mi, maio), Nowports (R$ 150 mi, maio) e Habi (US$ 100mi, junho).
Apesar dos grandes números, o Softbank reduziu o tamanho dos aportes na região, é verdade – o total de deals teve uma queda de 71% em investimentos, comparado ao recorde de US$ 7.1 bilhões registrado no terceiro trimestre de 2021. Mas, o gigante japonês segue apostando na região, embora com ritmo mais lento e maior rigor na avaliação dos negócios.
Dos US$ 8 bilhões reservados para investimentos na região – um fundo de US$ 5 bi e um de US$ 3 bi – o Softbank diz já ter capital compromissado na ordem de US$ 7,6 bilhões. Ou seja, ainda há US$ 400 mi para investir. Ainda, com uma mudança de estratégia, há a possibilidade de acessar outros US$ 2 bilhões do Vision Fund, fundo global do Softbank.
Segundo os gestores, o Vision Fund dá mais flexibilidade aos investimentos, porque não é necessário levantar um fundo exclusivo para a América Latina.
O ritmo e os follow-ons
Quando questionados sobre a redução dos investimentos do Softbank em 2022, os gestores deixaram claro que não é algo específico do Softbank – é a realidade no mundo todo. “Acho que a barra é diferente de quando a gente olhava em 2020 e 2021: do ponto de vista do negócio, dos unit economics e do time”, afirma Alex Szapiro.
As próprias startups também mudaram a forma de conduzir os negócios: ao invés de buscar taxas de crescimento acima de 50% ao ano, buscam crescer controladamente para ficarem prontas para o próximo estágio de captação.
Sobre follow-ons, o Softbank diz que devem transparecer mais que os investimentos novos, pois são empresas já conhecidas e com relacionamento prévio com o fundo. E, claro, há uma tendência de dar continuidade aos investimentos nesses negócios – ainda que novos investimentos também devam continuar ocorrendo.
A Captable também está com um follow-on aberto, confira.
Mas, afinal, o que mudou?
Mas se a barra do Softbank está diferente, o que mudou? Segundo Szapiro, os múltiplos dos mercados públicos é que mudaram e, aos poucos, essas mudanças estão chegando para as empresas privadas.
Também, o mercado estava bastante competitivo antes de 2022, com diversos fundos sem expertise investindo na América Latina e criando competitividade – e, com isso, valuations maiores – com quem já investia por aqui. Agora, esses fundos já estão indo embora e o mercado deve se ajustar.
O Softbank se culpa pelas demissões?
Segundo o gigante, as demissões são sintomas de muitos objetivos diferentes e, nem sempre, apenas um deles é considerado. Para começar, há empresas que contrataram demais – e muito rápido. Há casos, no portfólio do fundo, de startups que saíram de 350 funcionários para mais de 2 mil em menos de um ano. Nessa pressa por crescer a equipe, muitos erros ocorrem.
O Softbank também não se exime da culpa, dizendo que, por muitas vezes, os empreendedores estavam atendendo a um pedido dos fundos. Tanto Softbank, quanto outros grandes players exigiam que o capital investido fosse rapidamente aplicado para fazer o negócio crescer e chegar numa próxima rodada.
Mas não é só isso: há casos em que as startups estão cortando verticais, focando no seu produto principal, em busca de unit economics melhores. Com o crescimento mais lento, o empreendedor estende seu runway (quantos meses de capital a startup tem para continuar operando).
Ainda, se precisar captar recursos logo, a startup pode enfrentar um downround, uma captação com valor de mercado inferior ao anterior. Ou seja, cedendo mais participação ao investidor, por um valor menor que antes.
Em resumo: startups que cresceram muito rápido, contrataram muito, contrataram errado, estão em um período de ajustes, decidiram focar em seu core e em busca de melhores unit economics, são as que estão fazendo esse movimento de demissão.
O Softbank inflou valuations?
O Softbank é bastante criticado no mercado por ser um dos principais responsáveis por inflar os valuations das startups latinoamericanas. Sobre isso, os gestores do fundo argumentaram que confiam que possuem um processo de avaliação adequado – a apresentação de um negócio ao comitê de investimento, por exemplo, envolve um documento de 80 a 100 páginas.
A análise passa por pontos como a capacidade do empreendedor, cash flow, múltiplos comparados, entre outros. Um processo que pode levar de semanas a meses, até o investimento. Ainda assim, o Softbank faz um mea culpa e admite que não é perfeito, que, obviamente, já foram cometidos erros.
Sobre o cenário de 2022, o Softbank afirma que não busca ser o mais rápido ou o que paga a melhor avaliação na hora de investir. A aposta é que a reputação do fundo seja suficiente para que empreendedores continuem apresentando seus negócios e aceitando suas avaliações.
Por que continuam confiantes na LatAm?
Segundo o Softbank, o que fizeram na América Latina nos últimos anos é apenas o começo. “Porque quando você compara a penetração de crédito, comércio eletrônico e o acesso à saúde e educação na região, os problemas são muito grandes. Eles ainda precisam ser resolvidos e podem ser resolvidos pela tecnologia”, afirma Juan Franck.
O gigante japonês já possui US$ 7,6 bi comprometidos para a região e, se for necessário, ainda possuem mais recursos dos fundos globais para aplicar por aqui. Claro, o fundo está mais disciplinado – aqui e no mundo todo –, mas, não deixam dúvidas, o cenário daqui continua muito atraente.